quinta-feira, 3 de setembro de 2009
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
concurso de piano
dedos amarelos em pianos de mofo
um concurso antigo com mais de cem anos
competindo por um lugar no céu das teclas
e os comissários aplaudem
será que não ouvem neste aeroporto de artes paralíticas
os crimes do ministro das oitavas?
deslocados como populações da lava
para regiões submetidas à vontade de dois tiranos
os dedos são barrocos primeiro
depois Haydn cavado na convenção
segue-se o estudo da revolução
mas não se vêem os ouvidos
nos olhos do júri
que recebeu um tanto para ser justo
serei eu surdo às músicas bárbaras?
nem uma cócega do trilo pesadão
e se uma russa me desvia a atenção
faz no momento o mesmo santo - esse trabalho
que é o contrário da livre produção
e o doce encanto dos especialistas da morte
matados consecutivamente em esperas pagas
- estes advérbios são como os guarda-costas -
embeleza tudo quando a luz desaparece
e ela vai-se já não há razão para isto
desancar sobreposto - o piano cai
em cima do ministro
um concurso antigo com mais de cem anos
competindo por um lugar no céu das teclas
e os comissários aplaudem
será que não ouvem neste aeroporto de artes paralíticas
os crimes do ministro das oitavas?
deslocados como populações da lava
para regiões submetidas à vontade de dois tiranos
os dedos são barrocos primeiro
depois Haydn cavado na convenção
segue-se o estudo da revolução
mas não se vêem os ouvidos
nos olhos do júri
que recebeu um tanto para ser justo
serei eu surdo às músicas bárbaras?
nem uma cócega do trilo pesadão
e se uma russa me desvia a atenção
faz no momento o mesmo santo - esse trabalho
que é o contrário da livre produção
e o doce encanto dos especialistas da morte
matados consecutivamente em esperas pagas
- estes advérbios são como os guarda-costas -
embeleza tudo quando a luz desaparece
e ela vai-se já não há razão para isto
desancar sobreposto - o piano cai
em cima do ministro

quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Artemisia Gentileschi
A Artemisia é que era!, disse a menina pires que nunca devia ter olhado antes para uma obra de arte. O volume, a luz, as mulheres com presença. A Artemisia era assim num auto-retrato:

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E depois fazia Cleópatras e Lucrécias e Susanas e Síseras e decapitava homens. Entre o desejo e a faca. Sempre com carne e luz.

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Para mais sobre a Artemisia, há sempre a wikipedia brasileira:
Artemisia Gentileschi (Roma, 8 de julho de 1593 – Nápoles, 1653) foi uma pintora italiana.
Uma das únicas mulheres a serem mencionadas no ramo da pintura artística no barroco, sendo a primeira a possuir uma posição privilegiada. Dedicou-se a temas trágicos onde suas personagens (femininas) que, no geral, representam papéis de heroínas.
Tendo seu ingresso negado nas escolas de arte de Roma (que só aceitavam homens), conseguiu ser aceita como aprendiz do pintor Agostino Tassi, que acabou estuprando-a.
Mas vá, agora a sério, há também a wikipedia em inglês e ainda outras páginas como esta.
Artemisia Gentileschi (Roma, 8 de julho de 1593 – Nápoles, 1653) foi uma pintora italiana.
Uma das únicas mulheres a serem mencionadas no ramo da pintura artística no barroco, sendo a primeira a possuir uma posição privilegiada. Dedicou-se a temas trágicos onde suas personagens (femininas) que, no geral, representam papéis de heroínas.
Tendo seu ingresso negado nas escolas de arte de Roma (que só aceitavam homens), conseguiu ser aceita como aprendiz do pintor Agostino Tassi, que acabou estuprando-a.
Mas vá, agora a sério, há também a wikipedia em inglês e ainda outras páginas como esta.
domingo, 9 de agosto de 2009
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
arte pública, mas vestida...

O arquitecto autor da estátua do carreteiro, que vai ser colocada na futura Praça da Abelheira, em Viana do Castelo, teve de “vesti-la” porque o nu que estava previsto teve muita contestação da população local.
Face aos protestos, o escultor Manuel Rocha mudou de ideias e decidiu cobrir o carreteiro, vestindo-o com um colete tradicional, uma boina e uns socos.
A avó da menina pires também lhe devia dizer estas coisas
As formigas sonham com os sítios em que estão as coisas.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
horoscopia
Sagittarius (11/22-12/21)
In your opinion, life is far too short to waste on organizing and categorizing. You'd much rather go out and play with interesting, unusual people and leave the scrubbing to others more comfortable with the task. At the moment, however, you're actually in the mood to clean, and as usual, you won't be doing it halfway. You might try to stop yourself before you wash the paint off the walls, though -- unless you want to stay up all night painting too.
In your opinion, life is far too short to waste on organizing and categorizing. You'd much rather go out and play with interesting, unusual people and leave the scrubbing to others more comfortable with the task. At the moment, however, you're actually in the mood to clean, and as usual, you won't be doing it halfway. You might try to stop yourself before you wash the paint off the walls, though -- unless you want to stay up all night painting too.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Afinal mandava em ovelhas
Pároco quer corrigir engano que levou fiéis a adorar a santa errada
Nacional 2009-07-26 12:23
Não se sabe ao certo quando os fiéis começaram a chamar Senhora da Vinha à Senhora de Vinha, mas o pároco da freguesia da Areosa, em Viana do Castelo, quer acabar com o engano que os leva a adorar a santa errada.
“A Igreja defende a verdade, por isso, quero tirar os fiéis do engano”, diz, à Lusa, o padre João Cardoso, que está na paróquia de Areosa há 22 anos.
Com o tempo contado para a celebração de uma missa, o pároco explica que, mais do que uma questão de escrita ou de pronúncia, a troca do “e” pelo “a” faz com que “os fiéis adorem a santa errada”.
“É que a Senhora da Vinha está relacionada com a cultura do vinho, enquanto a nossa Senhora de Vinha vem do latim ‘ovinea’, que significa ovelhas, o que tem toda a razão de ser uma vez que, em tempos, esta região era toda ocupada por campos de pastorícia”, prosseguiu João Cardoso, já com a batina vestida para a celebração da eucaristia vespertina.
O pároco foi chamado à atenção para o engano por um professor de história, que de passagem pela freguesia vianense, lhe levou uma fotografia da pintura “Vierge à la Grappe”, da colecção de Luís XIV, exposta no Museu do Louvre, em Paris.
“Esse professor de História é que me mostrou que a imagem da padroeira nem sequer é a mesma, a Senhora da Vinha tem o menino ao colo e um cacho de uvas na mão, enquanto a Senhora de Vinha é uma pietá que segura o menino”, elucidou o eclesiástico, que incluiu as duas imagens no livrinho das festas da freguesia da Areosa, que se iniciam hoje, para comçear a elucidar os fiéis da paróquia.
A convicção de que a santa padroeira estava relacionado com o vinho levou, na última remodelação à capela de Areosa, a decorar o arco cruzeiro com uma videira carregada de cachos de uvas brancas e tintas.
Em conversa com a Lusa, o padre João Cardoso confessa que até a sua irmã, acreditando que a santa era padroeira da cultura do vinho, “sempre que tem uma boa colheita vem cá agradecer à Senhora da Vinha”.
O pároco está consciente que a missão de evangelizar sobre a designação correcta da padroeira não será tarefa fácil, mas, contrapôs, “tenho que esclarecer o povo para não continuar a andar enganado”.
“Não sei bem quando o erro começou, mas tenho a obrigação de o tentar corrigir até como sinal de respeito pelo passado desta freguesia, que foi a primeira a ser povoada, existindo vários achados que provam que este local acolheu, mesmo antes de Viana do Castelo, um povoamento que vivia da criação de gado”, acrescentou.
Por isso, está a fazer, em computador, panfletos que vai distribuir pelos devotos da freguesia a Norte de Viana do Castelo, aproveitando a concentração de pessoas nas festividades da freguesia.
Lusa / AO online
Nacional 2009-07-26 12:23
Não se sabe ao certo quando os fiéis começaram a chamar Senhora da Vinha à Senhora de Vinha, mas o pároco da freguesia da Areosa, em Viana do Castelo, quer acabar com o engano que os leva a adorar a santa errada.
“A Igreja defende a verdade, por isso, quero tirar os fiéis do engano”, diz, à Lusa, o padre João Cardoso, que está na paróquia de Areosa há 22 anos.
Com o tempo contado para a celebração de uma missa, o pároco explica que, mais do que uma questão de escrita ou de pronúncia, a troca do “e” pelo “a” faz com que “os fiéis adorem a santa errada”.
“É que a Senhora da Vinha está relacionada com a cultura do vinho, enquanto a nossa Senhora de Vinha vem do latim ‘ovinea’, que significa ovelhas, o que tem toda a razão de ser uma vez que, em tempos, esta região era toda ocupada por campos de pastorícia”, prosseguiu João Cardoso, já com a batina vestida para a celebração da eucaristia vespertina.
O pároco foi chamado à atenção para o engano por um professor de história, que de passagem pela freguesia vianense, lhe levou uma fotografia da pintura “Vierge à la Grappe”, da colecção de Luís XIV, exposta no Museu do Louvre, em Paris.
“Esse professor de História é que me mostrou que a imagem da padroeira nem sequer é a mesma, a Senhora da Vinha tem o menino ao colo e um cacho de uvas na mão, enquanto a Senhora de Vinha é uma pietá que segura o menino”, elucidou o eclesiástico, que incluiu as duas imagens no livrinho das festas da freguesia da Areosa, que se iniciam hoje, para comçear a elucidar os fiéis da paróquia.
A convicção de que a santa padroeira estava relacionado com o vinho levou, na última remodelação à capela de Areosa, a decorar o arco cruzeiro com uma videira carregada de cachos de uvas brancas e tintas.
Em conversa com a Lusa, o padre João Cardoso confessa que até a sua irmã, acreditando que a santa era padroeira da cultura do vinho, “sempre que tem uma boa colheita vem cá agradecer à Senhora da Vinha”.
O pároco está consciente que a missão de evangelizar sobre a designação correcta da padroeira não será tarefa fácil, mas, contrapôs, “tenho que esclarecer o povo para não continuar a andar enganado”.
“Não sei bem quando o erro começou, mas tenho a obrigação de o tentar corrigir até como sinal de respeito pelo passado desta freguesia, que foi a primeira a ser povoada, existindo vários achados que provam que este local acolheu, mesmo antes de Viana do Castelo, um povoamento que vivia da criação de gado”, acrescentou.
Por isso, está a fazer, em computador, panfletos que vai distribuir pelos devotos da freguesia a Norte de Viana do Castelo, aproveitando a concentração de pessoas nas festividades da freguesia.
Lusa / AO online
domingo, 26 de julho de 2009
em nono lugar

difícil ouvir silêncio outros
muro contra o pensamento
ouvir-se a si mesmo só
outros pensamentos outros ruídos
outros sons outras ideias
ouvir difícil
sair de si mesmo só
muro contra o que não é possível
ainda
amar conforto repetição mitos
a mesma coisa
é mesmo violência
conservação do mesmo
difícil ouvir silêncio outros
contra o muro pensamento
o contrário de ficar à espera
sábado, 25 de julho de 2009
Puta Vida Merda Cagalhões, Nel Monteiro
"Puta Vida Merda Cagalhões"
"Por não ter condições de vida
E ver sinais de mal a pior
Desculpem a linguagem
Mas não tenho outra melhor
Desculpem a linguagem
Mas não tenho outra melhor
É muito duro ser pobre
E mais duro é com certeza
Um pobre ser toda a vida
A lixeira da nobreza
Um pobre ser toda a vida
A lixeira da nobreza
Puta vida merda cagalhões
Porque será que tem que ser assim?
Os casebres e as mansões
Desigualdade sem ter fim
Puta vida merda cagalhões
Até parece que sou filho do azar
Pois até o Euro Milhões
Só merda me está a dar
A Expo 98
Tanta nota ali perdida
E tantos pobres pedintes
Sem terem nada na vida
E tantos pobres pedintes
Sem terem nada na vida
Não é defeito não ter
Nem para cagar, um penico
Defeito é ir tirar
Ao pobre para dar ao rico
Defeito é ir tirar
Ao pobre para dar ao rico
Puta vida merda cagalhões
Porque será que tem que ser assim?
Os casebres e as mansões
Desigualdade sem ter fim
Puta vida merda cagalhões
Até parece que sou filho do azar
Pois até o Euro Milhões
Só merda me está a dar
Estádios de futebol
Oferta de mão beijada
A quem já ganha milhões
E milhões sem ganhar nada
Ser pobre não é defeito
E ser rico também não
Defeito é ver um pobre
E não lhe dar um tostão
Defeito é ver um pobre
E não lhe dar um tostão
Puta vida merda cagalhões
Porque será que tem que ser assim?
Os casebres e as mansões
Desigualdade sem ter fim
Puta vida merda cagalhões
Até parece que sou filho do azar
Pois até o Euro Milhões
Só merda me está a dar
Aquela Casa da Música
Que não tem nada no Porto
Um insulto a quem não tem
Um minuto de conforto
Um insulto a quem não tem
Um minuto de conforto
Os vintes e dois mil milhões
Todos sabem para onde vão
Para a Ota e TGV
E não vai sobrar tostão
Para a Ota e TGV
E não vai sobrar tostão
Puta vida merda cagalhões
Porque será que tem que ser assim?
Os casebres e as mansões
Desigualdade sem ter fim
Puta vida merda cagalhões
Até parece que sou filho do azar
Pois até o Euro Milhões
Só merda me está a dar
Categoria: Humor
Palavras-chave:
nel monteiro puta vida merda
terça-feira, 21 de julho de 2009
As frases que os seres humanos conseguem escrever...
«A inflação da vis teatralis à maneira das câmaras de ar, pode sugerir, a seu tempo, rutura de aneurismas impantes na assistência exaltável.
Já desalterando os próprios músculos acionadores dos ritos hiláres, chega-se a contraregrar o íntimo do espectador melancólico, fazendo-o evoluir do humor presságo à despreocupação salutar.»
«Carlos Leal visto por Celestino G. da Silva», in programa da Récita em Homenagem a Carlos Leal (Teatro Politeama, 04/06/1952)
Já desalterando os próprios músculos acionadores dos ritos hiláres, chega-se a contraregrar o íntimo do espectador melancólico, fazendo-o evoluir do humor presságo à despreocupação salutar.»
«Carlos Leal visto por Celestino G. da Silva», in programa da Récita em Homenagem a Carlos Leal (Teatro Politeama, 04/06/1952)
correr com a música

Mas o que é que eles ouvem pelos headphones enquanto correm pelo estádio ou pelas estradas ao longo das praias? O que é que ouvem no walkman ou ipod ou nessa máquina sempre escondida donde saem dois fios que se encaixam nas orelhas? Ouvem música com o ritmo que querem que as pernas façam? Ouvem música calma para relaxar? Ouvem a sua banda favorita? Ouvem gravações com indicações do tipo "já correste 1km, já perdeste x calorias", "já correste 5km, já perdeste outras tantas calorias"?
E por que não conseguem correr sem os ouvidos tapados?
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Colonialismo

Há quem diga que os homens vieram da África, que África é a nossa mãe.
Ora, em tempos de colónias veja-se o que a «intérprete da Canção Nacional» [sic] Helena Tavares afirmava, sobre a sua futura ida a África com a Companhia do Teatro Apolo:
«Julgo que a grande vontade que tenho em agradar me auxiliará bastante e que o povo africano irá gostar de mim, dos fados que lhe levarei e no seu sentimentalismo o ligarão mais à Mãe Pátria.»
«Helena Tavares: Uma voz do fado», in Vem aí a Companhia do Teatro Apolo, número único, Fevereiro de 1955
África. Qual mãe, qual carapuça! A pequenina África, sem cultura, sem história, sem nada que se aproveite, coitadinha, era, isso sim, a filha deste grande educador, tão grande e tão venturoso, tão fadista e tão fascista... Portugal!
Pff...
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Mário Dionísio 1916-1993
Hoje faria anos Mário Dionísio (16/7/1916 - 17/11/1993), poeta, contista, romancista, crítico de arte, professor, pedagogo, militante anti-fascista, pintor.
Há uns dias foi posto "no ar" o site da Associação Casa da Achada - Centro Mário Dionísio, que reune informação sobre a actividade do Centro e sobre a vida e a obra de MD: cronologias, fotografias, documentos, quadros... Espreitem-no.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
terça-feira, 7 de julho de 2009
terça-feira, 30 de junho de 2009
Samorost 1 e 2 e apêndices

Ir aqui e clicar (em cima à direita) em «FLASH GAMES».
São muito engraçados os desenhos. Os jogos têm piada, sobretudo os Samorosts. São... deliciosos. São jogos de descobrir coisas a clicar na imagem. Umas vezes com mais raciocínio, outras com menos. Belas animações. Sei lá que mais diga.
Se eu soubesse desenhar, e fazer animações e coisas em computador e sei lá o quê... Ó amigos que sabem mais dessas coisas, façam coisas assim! Vá lááááá...
As animações (para lá dos jogos) é que ainda não vi. Vou ver!
São muito engraçados os desenhos. Os jogos têm piada, sobretudo os Samorosts. São... deliciosos. São jogos de descobrir coisas a clicar na imagem. Umas vezes com mais raciocínio, outras com menos. Belas animações. Sei lá que mais diga.
Se eu soubesse desenhar, e fazer animações e coisas em computador e sei lá o quê... Ó amigos que sabem mais dessas coisas, façam coisas assim! Vá lááááá...
As animações (para lá dos jogos) é que ainda não vi. Vou ver!
Ah, e tudo tem de ser com som, senão a piada fica pela metade.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
terça-feira, 23 de junho de 2009
Desarrumação
A desarrumação é Dada.
Tem bicos, tem cores, tem rugosidades diferentes umas das outras. Tem palavras e tem sons. Tem instrumentos de muitos tipos, tem zumbidos e vozes de vários animais. A desarrumação é ruidosa.
Tem o que caíu e o que se colocou. O que lá está pela beleza e o que lá está porque se jantou. O tambor ao lado da estante, a estante ao lado do copo, o copo ao lado da camisola, a camisola ao lado do prego, o prego ao lado da cama, a cama ao lado do globo, o globo ao lado do sono, o sono ao lado da tesoura. A tesoura dentro da canção. O cartão do maço a fazer de filtro de cigarro, o dinheiro dentro do Capital, o bilhete picado colado na porta.
A desarrumação fala. Nunca está calada.
A desarrumação tem falta de amnésia.
A desarrumação tem bicos. Tem madeira, tem papel, tem alumínio; tem quadrados, tem esferas, tem bolsas de ar; brinquedos, talheres, sapatos, peças, fragmentos, Tem livros inteiros e cascas de banana que apodrecem rodeadas de moscas-moscatel.
A desarrumação é um espaço vivido. Há pequenas clareiras para pôr cada pé. Pode encher-nos a cabeça com coisas a mais. Pode sufocar-nos. Ou pode fazer sentir-nos em casa. Exactamente na nossa sala.
Tem bicos, tem cores, tem rugosidades diferentes umas das outras. Tem palavras e tem sons. Tem instrumentos de muitos tipos, tem zumbidos e vozes de vários animais. A desarrumação é ruidosa.
Tem o que caíu e o que se colocou. O que lá está pela beleza e o que lá está porque se jantou. O tambor ao lado da estante, a estante ao lado do copo, o copo ao lado da camisola, a camisola ao lado do prego, o prego ao lado da cama, a cama ao lado do globo, o globo ao lado do sono, o sono ao lado da tesoura. A tesoura dentro da canção. O cartão do maço a fazer de filtro de cigarro, o dinheiro dentro do Capital, o bilhete picado colado na porta.
A desarrumação fala. Nunca está calada.
A desarrumação tem falta de amnésia.
A desarrumação tem bicos. Tem madeira, tem papel, tem alumínio; tem quadrados, tem esferas, tem bolsas de ar; brinquedos, talheres, sapatos, peças, fragmentos, Tem livros inteiros e cascas de banana que apodrecem rodeadas de moscas-moscatel.
A desarrumação é um espaço vivido. Há pequenas clareiras para pôr cada pé. Pode encher-nos a cabeça com coisas a mais. Pode sufocar-nos. Ou pode fazer sentir-nos em casa. Exactamente na nossa sala.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
cachimbo (a pensar no do Mário Dionísio)

sabe mal
e a paz fuma-se
(ele mais do que ela)
o escritor desenha
agora é por isso que escreve
não é pela injustiça
vamos pôr sem imagem
lápis de cera e colagem
e as nuvens subindo a parede
sabe mal e rimo-nos
e a paz debate-se
com outra guerra
desenha o escritor
não pinta
não sabe nada da tinta
inclina o que arde
o tabaco sim, o papel não
só ficaram os livros
cinzentos - nas telas
ele sabe
do conflito da unidade
o mundo numa pincelada
todo
todo dissonante
domingo, 14 de junho de 2009
poema para a mulher que trabalha de sol a sol
Trabalho o sol traz
e o sol to leva
essa carga
não leves
A enxada é carga
mulher tu não podes
esse peso
não pedes
Pesa-te o trabalho
a carga que levas
mulher
não caves
A enxada pára
mulher não é leve
a ela
não cedas
Noutra arma pega
mulher é mais leve
com ela
fere
Essa arma leva
mulher o seu peso
nega
o medo
Fiama Hasse Pais Brandão, Barcas Novas
e o sol to leva
essa carga
não leves
A enxada é carga
mulher tu não podes
esse peso
não pedes
Pesa-te o trabalho
a carga que levas
mulher
não caves
A enxada pára
mulher não é leve
a ela
não cedas
Noutra arma pega
mulher é mais leve
com ela
fere
Essa arma leva
mulher o seu peso
nega
o medo
Fiama Hasse Pais Brandão, Barcas Novas
terça-feira, 9 de junho de 2009
a excepção e a regra
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Bancos e bancos
Há bancos e bancos
há bancos de sentar
e há bancos de depositar
há bancos de madeira
e bancos de oiro
há bancos e bancos,
há bancos e bancos.
Há bancos de três pernas
e bancos a quatro mãos
há bancos para rabos
e bancos para roubos
bancos para descansar
bancos para descascar.
Há bancos e bancos
pretos e brancos
há bancos de sentar
e há bancos de levantar
há bancos seguros
e bancos de juros
há bancos das pessoas
e bancos contra nós.
há bancos de sentar
e há bancos de depositar
há bancos de madeira
e bancos de oiro
há bancos e bancos,
há bancos e bancos.
Há bancos de três pernas
e bancos a quatro mãos
há bancos para rabos
e bancos para roubos
bancos para descansar
bancos para descascar.
Há bancos e bancos
pretos e brancos
há bancos de sentar
e há bancos de levantar
há bancos seguros
e bancos de juros
há bancos das pessoas
e bancos contra nós.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Artaud sobre loucura
E o que é um “verdadeiro louco”?
É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceite (que nunca é o sentido real e vivo, instrínseco das coisas), em vez de trair uma determinada ideia superior de honra humana.
Assim, a sociedade manda estrangular nos seus manicómios todos aqueles dos quais quer desembaraçar-se ou defender-se porque se recusam a ser seus cúmplices em certas enormidades.
Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.

Neste caso, a reclusão não é sua única arma e a conspiração social tem outros meios para triunfar sobre as vontades que deseja esmagar.
Há grandes sessões de enfeitiçamento global das quais participa, periodicamente, a consciência em pânico.
Assim por ocasião de uma guerra, de uma revolução, de um transtorno social ainda latente, a consciência colectiva é interrogada e questiona-se para emitir um julgamento. (No circular teatro-fantasma onde a vida é apenas simulada e não vivida, onde o homem se torna mais máquina do que as próprias máquinas criadas por ele próprio).
Essa consciência também pode ser provocada e despertada por certos casos individuais particularmente flagrantes.
Assim foi que houve feitiços colectivos nos casos de Baudelaire, Edgar Poe, Gérard de Nerval, Nietzsche, Kierkgaard, Fraz Kanfka, Gregório Delgado, e também Vang Gogh.
É assim que poucas pessoas lúcidas e de boa vontade que se debatem sobre a terra já se viram tragadas pela profundeza de autênticos pesadelos em vigília e rodeadas por uma poderosa sucção, pela poderosa opressão tentacular (nazi) de um tipo de magia cívica e psíquica, que já se vê a aparecer nos costumes de modo manifesto.
Diante dessa sordidez unânime que de um lado se baseia no sexo e de outra nos ritos psíquicos, não há delírio em passear à noite com um chapéu coroado por doze velas para pintar uma paisagem natural; pois como faria o pobre Van Gogh para iluminar-se, e pintar suas paisagens, em pleno século XIX?
Antonin ARTAUD, Van Gogh, O suicidado da sociedade
É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceite (que nunca é o sentido real e vivo, instrínseco das coisas), em vez de trair uma determinada ideia superior de honra humana.
Assim, a sociedade manda estrangular nos seus manicómios todos aqueles dos quais quer desembaraçar-se ou defender-se porque se recusam a ser seus cúmplices em certas enormidades.
Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.

Neste caso, a reclusão não é sua única arma e a conspiração social tem outros meios para triunfar sobre as vontades que deseja esmagar.
Há grandes sessões de enfeitiçamento global das quais participa, periodicamente, a consciência em pânico.
Assim por ocasião de uma guerra, de uma revolução, de um transtorno social ainda latente, a consciência colectiva é interrogada e questiona-se para emitir um julgamento. (No circular teatro-fantasma onde a vida é apenas simulada e não vivida, onde o homem se torna mais máquina do que as próprias máquinas criadas por ele próprio).
Essa consciência também pode ser provocada e despertada por certos casos individuais particularmente flagrantes.
Assim foi que houve feitiços colectivos nos casos de Baudelaire, Edgar Poe, Gérard de Nerval, Nietzsche, Kierkgaard, Fraz Kanfka, Gregório Delgado, e também Vang Gogh.
É assim que poucas pessoas lúcidas e de boa vontade que se debatem sobre a terra já se viram tragadas pela profundeza de autênticos pesadelos em vigília e rodeadas por uma poderosa sucção, pela poderosa opressão tentacular (nazi) de um tipo de magia cívica e psíquica, que já se vê a aparecer nos costumes de modo manifesto.
Diante dessa sordidez unânime que de um lado se baseia no sexo e de outra nos ritos psíquicos, não há delírio em passear à noite com um chapéu coroado por doze velas para pintar uma paisagem natural; pois como faria o pobre Van Gogh para iluminar-se, e pintar suas paisagens, em pleno século XIX?
Antonin ARTAUD, Van Gogh, O suicidado da sociedade
sábado, 23 de maio de 2009
terça-feira, 19 de maio de 2009
sábado, 16 de maio de 2009
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Gelado de morango
Ingredientes:
250 g de morangos
250 g de natas
125 g de açúcar
Confecção:
Passe os morangos por um passador.
Adicione o açúcar e misture.
Bata levemente as natas e junte-as ao preparado anterior.
Bata a mistura durante 2 minutos e ponha no congelador.
Uma hora depois retire o preparado do congelador e bata-o energicamente.
Volte a pô-lo no congelador até à altura de servir.
Enfeite com morangos e natas.
250 g de morangos
250 g de natas
125 g de açúcar
Confecção:
Passe os morangos por um passador.
Adicione o açúcar e misture.
Bata levemente as natas e junte-as ao preparado anterior.
Bata a mistura durante 2 minutos e ponha no congelador.
Uma hora depois retire o preparado do congelador e bata-o energicamente.
Volte a pô-lo no congelador até à altura de servir.
Enfeite com morangos e natas.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
saltare ad tibicinis modos
Au cours des IXe, Xe et XIe siècles, la musique est surtout jouée par le jongleur. Comédien, saltimbanque, il va où bon lui semble. Pour divertir, il sonne la trompe, chante, récite, joue de la vièle et fait danser les ours. Sur la place publique, la jongleresse aussi amuse le peuple. Jongler veut dire jouer. Descendant direct du barde celtique, du scop germain et du mime de l'Antiquité, le jongleur fait partie d'une grande fraternité disséminée à travers toute l'Europe.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
quinta-feira, 7 de maio de 2009
com gente
não queria saber das casas
se não houvesse pessoas nas casas
não queria saber das casas
se as casas não tivessem pessoas
queria saber do copo e da telha
e dos raios encurtados do som
e fim
depois vinham ideias, palavras,
matemáticas e maus fígados
e muitos outros dos seres bípedes
daqui
isso de casas sem gente
eu sei lá o que isso é
se não houvesse pessoas nas casas
não queria saber das casas
se as casas não tivessem pessoas
queria saber do copo e da telha
e dos raios encurtados do som
e fim
depois vinham ideias, palavras,
matemáticas e maus fígados
e muitos outros dos seres bípedes
daqui
isso de casas sem gente
eu sei lá o que isso é
terça-feira, 5 de maio de 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
Os melhores filmes contra a precariedade - como quem faz um par de sapatos
Contra as ETTs (Empesas de Trabalho Temporário)
Situação de contratação de Maria da Luz
Situação de renovação de vínculo da Francisca
Situação de contratação de Maria da Luz
Situação de renovação de vínculo da Francisca
quarta-feira, 25 de março de 2009
de biciclete
na tarde chuvosa com biocos
pesada de olheiras neutras
vem pela estrada enlameada e rouca
a campainha duma biciclete
a mesma infância entre poças
a mesma casa de chão térreo
o mesmo destino a mesma
morte anónima bem-vinda
na mesma fábrica os avós
na mesma fábrica os pais
na mesma fábrica os amigos dos pais e dos avós
mas vai-se para a fábrica distante
agora de biciclete
Mário Dionísio
O riso dissonante (1950)
segunda-feira, 16 de março de 2009
quinta-feira, 12 de março de 2009
terça-feira, 10 de março de 2009
voz
«Tive muita pena dele, por sabê-lo dependente de uma voz e porque estarmos dependentes de uma voz é como se estivéssemos sentados na guilhotina da Revolução Francesa.»
Federico Garcia Lorca, «Santa Luzia e São Lázaro», Anjo e duende. Lisboa: Assírio e Alvim. 2007.
Federico Garcia Lorca, «Santa Luzia e São Lázaro», Anjo e duende. Lisboa: Assírio e Alvim. 2007.
quarta-feira, 4 de março de 2009
oito
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