domingo, 29 de janeiro de 2012

respirar fundo

Adormecer nos teus braços
a cheirar-te os poros
a acertar as minhas batidas
com as tuas tão calmas
Poder adormecer segura e simples
com o meu irmão
sem incesto
sem complicação
só estar muito perto
estender o carinho
respirar fundo
dar descanso ao corpo e à cabeça
Respirar-te respirar-me
perder a consciência
perder o peso
sonhar à vontade
dormir
Sem amanhã
gozar o caminho
unir-me
ser nós
este bocadinho.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

mas à noite havia disto, apetecia só dormir

eram duas torres
era tudo grande
eram ligadas a meio nos vários andares
havia escadas, elevadores
e amigos em toda a parte porque era a minha festa de anos
ou os meus dias eram todos assim
com amigos em todos os cantos
de todos os lados
a visitarem-me
em festa
sem trabalho
e eu podia estar contigo deitada na relva do topo das torres
e na relva da base das torres
e tudo era possível
e tudo sabia bem
havia bolos que apareciam não sei de que cozinhas
e os materiais das torres não tinham nada a ver comigo
espelhos, mármores, linhas rectilíneas
mas era a minha casa
e toda a gente se sentia bem em minha casa

As Torres da Cinciberlândia by Xutos & Pontapés on Grooveshark

os braços na mesa

pouso os braços na mesa
cansada de equilibrar a vassoura
amanhã na rua se rirão
não vão perceber nada
mas eu farei de surda e atenta
seguirei apenas a música
e a batalha todos os dias
até que a acção seja irmã do sonho
tirem-me os feriados
que eu descanso na mesma
os braços na mesa
e amanhã na rua...

aqui estou eu, o vosso palhaço, usem-me até eu rebentar


Vero palhaço

Nascer, o vir à vida, a caminhada
A alegria, a tristeza, o desengano
É o que sentimos a cada passada
De uma a outra etapa, ano após ano

Mal o riso se fecha o peito dói
Há choros que esbarram em gargalhar
De vez em quando a mágoa que corrói
À porta da alegria vem chorar

De contrastes assim tece-se a vida
Pesares abrem nalma uma ferida
Há risos a fluir até no olhar

E o homem, ora rindo, ora chorando
Enquanto vive a vida caminhando
Vero palhaço, ri o seu penar.


Gilson Nascimento

*

Acrobata da dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas daço. . .

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

João da Cruz e Sousa

*

Pelos Palcos da Vida

Fantasia de palhaço, sempre termina
Quando a luz do palco pisca
E a cortina de sonhos se abaixa.
Feito máscara derretida
Que confunde minha alma dourada
Com o gosto amargo do dia
E da lágrima que teima em cair.

Pelos palcos, pela vida,
Pelas suas bocas pintadas
Pela dor de um palhaço sem circo
Pelo mistério da mágica
Que sai de mim.

Por todos os palcos do mundo
Encenando a vida de forma errada
Por todos os cantos calados
Que explodiram de bocas fechadas
Ah, você... não saia de mim...
Fique comigo, doce querubim.

Se eu pudesse, lhe daria,
A magia e o sonho em que vivo
A alegria que eu não sabia
Que ainda existe em mim
Ah, eu lhe daria...
A amargura de ser só palhaço
A angústia de circo fechado
Para balanço de uma "doce vida"
A que existe em mim.

Luiza Albuquerque

*

Raimundo
(Perfil de um cidadão comum)

Raimundo
imundo perfil do mundo
(aos olhos de quem se faz surdo)
e não ouve do profundo os gritos
soturnos de fé.

Raimundo
imundo perfil do mundo
mundo que se fez muro
e dividiu vários mundos.

Mundo, todo mundo
te busca; no dia a dia
dos vagabundos
nos palhaços dos olhos
escuros
cujo brilho já muito se perdeu.

Somos todos palhaços do mundo
e Raimundo é apenas o perfil imundo
aos olhos de quem é surdo.


Mário Donizete Massari

*

Poema da Utopia

A noite
caiu sem manchas e sem culpa.
Os homens largaram as máscaras de bons actores.
Findou o espectáculo. Tudo o mais é arrabalde.

No alto, a utópica Lua vela comigo
E sonha coalhar de branco as sombras do mundo.
Um palhaço, a seu lado, sopra no ventre dos búzios.
Noite! Se o espectáculo findou
Deixa-nos também dormir.


Fernando Namora

*

O Palhaço

Anda-se a rir, a rir dentro de mim,
Com as lívidas faces desbotadas
Um estranho palhaço de cetim,
Rasgando em dor meu peito às gargalhadas!
Sobe aos meus olhos sempre a rir assim -
Espreitando as figuras malsinadas
Que não se vestem nunca de arlequim,
Mas andam pela vida disfarçadas.

Na sombra dos meus cílios, emboscado,
Ri, no meu olhar frio e desolado,
Escondendo-se atónito e surpreso

E quando desce à triste moradia,
Vem mais louco e soberbo de ironia
Na irrisão dum sarcástico desprezo!


Judith Teixeira

*

Canção dos Palhaços by Sérgio Godinho on Grooveshark

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Quem pode poupar?

Voltei a ver o nosso querido Cavaco
a declarar sobre as suas dificuldades
para pagar as suas despesas.
Aquele homem, aquele monstro,
que me aparece à frente desde que nasci, sem eu nunca ter pedido,
com aquela voz,
aquela deficiência na fala
(e de certeza que chegou a ter aulas de dicção entre os anos 80 e os 2010)...
Voltei a vê-lo a falar com os jornalistas,
a dizer coisas que nos chocam,
inventar que é igual a quem não tem dinheiro,
que está na mesma situação
que o moço que agora serve a gasolina em Santa Comba Dão
- ai, enganei-me! - em Boliqueime!
Mas vejamos com atenção
- e tentemos abstrair-nos um pouco
do Rio ao lado que quase não consegue conter o ataque de riso ao ouvir tamanhas mentiras
(ele, o principal aprendiz de mentiras e do descaramento) -
e percebemos
que o Cavaco queria era pôr a tónica sobre isto:
«eu poupei».
Eu poupei, tenho poupanças, vivi como o Salazar me ensinou.
Vocês estão na merda porque não souberam poupar.
Eu e a minha Maria sempre pusemos de lado,
as minhas escrivaninhas são povoadas de porcos mealheiros,
os meus aparadores, os meus psichés,
até a fonte que tenho no jardim lá tem um porco mealheiro sorridente.
Mas quem pode poupar?
Quem pode poupar é porque não anda a contar.

Vai mas é comer bolo-rei, ó bacalhau seco.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Elis Regina morreu há trinta anos

...com 36 anos...
Mas não é o aniversário da morte que impressiona a menina pires, nem o facto de ela ter morrido tão nova.
O que a impressiona é o modo de cantar da menina elis, sua irmã até na silhueta.

Aqui ela canta uma canção do Milton Nascimento.
Nascimento, morte... vem mesmo a propósito, menina.



Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Da cozinha e das suas ferramentas

Martha Rosler's - Semiotics of the kitchen

Hyaena Fierling Reich - Helena you're so domestic

Bezerra da Silva - Garfo no bolso

Frank Zappa - The dangerous kitchen

e a caminho dos sitiados reencontrei os clandestinos

Mais sobre os clandestinos: aqui e aqui.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

o João Aguardela morreu há três anos

e parece que foi ontem
aqui ficam uns soltos sitiados: Naufrágio by Sitiados on Grooveshark

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Os cadáveres-esquisitos escritos da noite d'Os Três da Vida Airada


No passado dia 7 de Janeiro, houve um cadáver esquisito musical na Zona Franca (Bartô, Lisboa): Os Três da Vida Airada. Dessa noite de música, dança e convívio nasceram vários cadáveres esquisitos. O Ladrões de Gado publicou os cadáveres esquisitos desenhados. A silhueta da menina Pires publica os cadáveres esquisitos escritos:






segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

a nomeada

a silhueta da menina pires nomeada nos Blogs do Ano 2011 do Aventar, na secção Livros / Literatura / Poesia.

Sou proactiva

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Dom Pilhas e Sardanisca na orla de um cantinho à beira mar plantado


. Eles estão a chegar para virem connosco pilhar o grande capital!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Challenge:

Create an image out of a word, using only the letters in the word itself. Rule: Use only the graphic elements of the letters without adding outsid...

a Natália de Andrade também não quis impante de voz

a Natália Andrade também não quis implante de voz

domingo, 1 de janeiro de 2012

tempo de (não) vida

as pessoas fecham
escurecem, ficam sem cor
retraem, secam,
endurecem
fazem que esquecem

as pessoas
aprendem a ser infelizes