terça-feira, 26 de julho de 2011

Julho

As paredes têm olhos
as árvores têm olhos
as pedras da calçada
as luzes
os sons têm olhos
os écrãs têm imans
o peito tem quebras
a garganta tem pedras
os amigos têm bombas

As rugas das paredes têm beijos
as folhas das árvores têm beijos
a cair nas pedras da calçada
os raios das luzes
certos sons têm beijos

As sirenes têm medo
as gargalhadas têm medo
os zumbidos
os joelhos
as malas têm medo

O corpo prende
o ritmo estrangula
a cabeça ameaça
a palavra corta a garganta

o orgulho passa

quarta-feira, 13 de julho de 2011

poema para o desenho vinte de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

Sabe-se lá o que faz ele
Na guerra
lá na guerra que tanto engrandece
os homens homens
E para além dos postais que manda
ou que não manda
o que faz ele na guerra?
Na guerra espaço
na guerra tempo
na guerra situação
na guerra fábrica
na guerra longe
E ela que fica
com os pratos e os filhos e as tapeçarias
ao piano
a fazer vida
- isso é de somenos importância
Em todo o caso
está no coração
Ao longe

quinta-feira, 7 de julho de 2011

poema para o desenho dezanove de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

Maria Julieta Goulart Parreira Monteiro
toca piano o dia inteiro
doméstica, educada
com mãos de fada
a dar música às paredes da casa.
O vaso de flores periclitante
em cima do móvel imóvel instrumento
olha a mesinha mais abaixo
com tinteiros, bibelots e um retrato.
Maria Julieta Goulart Parreira Monteiro
de costas direitas e o grande nariz
chegaria aos 60 sem saber o que diz
mas com a memória nos dedos
dos saltos pelas teclas
cumprindo os compassos...
Mas a morte prematura espreita
sem dó a esposa de Romeu.
E a nota final fica
aqui no desenho do orfão.