terça-feira, 28 de junho de 2016

terça-feira, 21 de junho de 2016

domingo, 19 de junho de 2016

n'oje

sarna
coxa
tu magreza
ossos restos
vida acesa em palavras fumo ossos bichinhos
impaciência, bichinhos
inconstância, a severos açores
argmassa do que resta
foi ruminado ruminamos estamos ainda aqui
restos de toques de garras
sentimos já para nada
ardilamos sempre sempre ao lado do
voo de esperança que não espera e perde
perdida
em lama de tempo imundo

encontro libertário de évora

sexta-feira, 17 de junho de 2016

A menina pires reescreveu um soneto ao jantar

Magoam-me de acusação e despedida

Magoam-me de acusação e despedida
como se todo o esforço dos meus braços
não fossem erros vossos, homens baços,
e a minha falta a tua, toda a vida.

Hei-de cantar-vos a revolta um dia, 
quando a noite que carrego for futuro
do sol que me esvazia como um furo, 
e chegar outra cidade menos fria. 

Entretanto, deixai que ache injusto: 
até que o furo feche e rache o busto, 
seja o álcool noutra mesa bem queimado. 

A minha cor é verde, a raiva sabe: 
que o combate dentro dela nunca acabe, 
e transborde até deixar de ser lixado. 


O original de Carlos de Oliveira:

Acusam-me de Mágoa e Desalento

Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.

Carlos de Oliveira, in 'Mãe Pobre'