quarta-feira, 27 de maio de 2015

duas pedrinhas

duas pedrinhas
a tocar numa base de granito
podem fazer do cinzento música
e ser muito estimulante
para o ouvido

mas três gigantes
a pisar as casas todas
como dantes
não é nada simpático
e para quem lá vive
não é prático

já as cinco pontas
de uma estrela decidida
com a ajuda de uma amiga
(e de um espelho)
podem dar outra luz
à estrada

visão lateral

As mulheres desenvolvem mais a visão lateral do que os homens. Por isso, quando vão ao Galeto, não olham só para a televisão.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

a escada?

Apocalipo de cola

A esta hora, a depressão imensa cai-me por dentro. Os pratos por lavar, mesas com papéis e comida, cotão na cama gritam-me no estômago a angústia. A testa aperta, o coração mirra, tu estás em coma, a dormir. Não oiço nada, o que oiço apago a borracha. As aparas da borracha são brancas. Quero desistir, perdi as forças. O cérebro muito racional e científico fala-me em voz grave. É fome, é sono, trabalho a mais, cigarro a mais. E o super-cérebro ou alter-cérebro pergunta: e a solidão? Andas a ver demasiados anúncios de cerveja, diz o cérebro. Não percebes nada do mundo, só olhas para ti, responde o outro, o alter. Ou super. Autodestruo. Os olhos, a boca, os pulmões, o estômago. A pele. Os dentes. A caveira cava-me e abre orelhas, olheiras, alheiras, alheias, areias, áreas e árias. As tépidas mentes doentes do ente. Tusso para sempre. Comem-me a carne as pulgas. Outra estratosfera diz que a culpa é da hora. A que começou a escrever. Horas, hei-de esfaquear-vos. Para que precisamos de horas e de que elas sejam diversas? Venham ser diversos os segundos. Mas desisto de discussões e lutas. Felizmente, durmo.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O livro de ontem à noite (para publicar amanhã)


Como escrever a andar
como quem come o impossível
o andar-ritmo, estilo, tipo
e a voz alta a ditar as regras
o individualismo desuniversal
a coisa só-si
a ser aberta-fechada, malcriada
e o travão-apagão visitante
como fazer assim o que se quer
como quem come o desistente
sonolento de saudades e na goela anti-partos
carapaças linhas duras
a mão desvia o padrão azul
a mão cai depois e não sabe
a mão ganha cabeça










Apanhado em flagrante num instinto comunitário
o gato senhor de si vira a cabeça
finge dormir de orelha alerta
dá o flanco de costas.
Os gritos de cio ou abandono
são iguais aos de crias humanas largadas nas bermas das estradas.
Como pode um preso libertar outro preso?
O gato não ronrona esta noite
ganha torcicolos
sobressalta
regurgita







não era a distância
entre nós e o barco
éramos nós o barco
e o nós era outro e já não se via
numa espécie de miopia

daí talvez os gritos de gato voador
ouvidos mais acima
ouvidos-alerta do gato do sexto
e o escrever a voar

e, pois canté, os nós eram só eu
ilha extinta pela distância








inventa-me um título
mas não me perturbes
coça-me o testículo
mas não me masturbes