sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
aqui estou eu, o vosso palhaço, usem-me até eu rebentar
Vero palhaço
Nascer, o vir à vida, a caminhada
A alegria, a tristeza, o desengano
É o que sentimos a cada passada
De uma a outra etapa, ano após ano
Mal o riso se fecha o peito dói
Há choros que esbarram em gargalhar
De vez em quando a mágoa que corrói
À porta da alegria vem chorar
De contrastes assim tece-se a vida
Pesares abrem nalma uma ferida
Há risos a fluir até no olhar
E o homem, ora rindo, ora chorando
Enquanto vive a vida caminhando
Vero palhaço, ri o seu penar.
Gilson Nascimento
*
Acrobata da dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...
Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas daço. . .
E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
João da Cruz e Sousa
*
Pelos Palcos da Vida
Fantasia de palhaço, sempre termina
Quando a luz do palco pisca
E a cortina de sonhos se abaixa.
Feito máscara derretida
Que confunde minha alma dourada
Com o gosto amargo do dia
E da lágrima que teima em cair.
Pelos palcos, pela vida,
Pelas suas bocas pintadas
Pela dor de um palhaço sem circo
Pelo mistério da mágica
Que sai de mim.
Por todos os palcos do mundo
Encenando a vida de forma errada
Por todos os cantos calados
Que explodiram de bocas fechadas
Ah, você... não saia de mim...
Fique comigo, doce querubim.
Se eu pudesse, lhe daria,
A magia e o sonho em que vivo
A alegria que eu não sabia
Que ainda existe em mim
Ah, eu lhe daria...
A amargura de ser só palhaço
A angústia de circo fechado
Para balanço de uma "doce vida"
A que existe em mim.
Luiza Albuquerque
*
Raimundo
(Perfil de um cidadão comum)
Raimundo
imundo perfil do mundo
(aos olhos de quem se faz surdo)
e não ouve do profundo os gritos
soturnos de fé.
Raimundo
imundo perfil do mundo
mundo que se fez muro
e dividiu vários mundos.
Mundo, todo mundo
te busca; no dia a dia
dos vagabundos
nos palhaços dos olhos
escuros
cujo brilho já muito se perdeu.
Somos todos palhaços do mundo
e Raimundo é apenas o perfil imundo
aos olhos de quem é surdo.
Mário Donizete Massari
*
Poema da Utopia
A noite
caiu sem manchas e sem culpa.
Os homens largaram as máscaras de bons actores.
Findou o espectáculo. Tudo o mais é arrabalde.
No alto, a utópica Lua vela comigo
E sonha coalhar de branco as sombras do mundo.
Um palhaço, a seu lado, sopra no ventre dos búzios.
Noite! Se o espectáculo findou
Deixa-nos também dormir.
Fernando Namora
*
O Palhaço
Anda-se a rir, a rir dentro de mim,
Com as lívidas faces desbotadas
Um estranho palhaço de cetim,
Rasgando em dor meu peito às gargalhadas!
Sobe aos meus olhos sempre a rir assim -
Espreitando as figuras malsinadas
Que não se vestem nunca de arlequim,
Mas andam pela vida disfarçadas.
Na sombra dos meus cílios, emboscado,
Ri, no meu olhar frio e desolado,
Escondendo-se atónito e surpreso
E quando desce à triste moradia,
Vem mais louco e soberbo de ironia
Na irrisão dum sarcástico desprezo!
Judith Teixeira
*
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário