quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
um poema de Manuel Canário
Sempre fui um operário
Em duas profissões
Mas nunca fui lacaio
Para mestres e patrões
Trinta anos de censura
Vinte de caixas sindicais
Quarenta anos de ditadura
Ena porra que é demais
Primeiro de Maio ganhámos
Para bem de quem trabalha
Tantos anos lutámos
P’ra vencer esta batalha
Sou pobre mas sou honesto
Nunca trabalhei a roubar
Há quem diga que não presto
Por não saber engraxar
Muita gente passou mal
Actualmente se esqueceu
Que havia um Tarrafal
E boa gente lá morreu
Sempre fui um operário
Agora deixei de ser
Hoje não tenho horário
Nem patrão para obedecer
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
A li(cita)ção - situação do Ensino Superior
PERSONAGENS:
Leiloeir@
Paulo Teixeira Pinto
Francisco Murteira Nabo
João Picoito
Charles Buchanan Jr
Alun@
Assistente d@ leiloeir@
Leiloeir@ – Boa tarde! Estamos hoje aqui, a pedido do Engenheiro José Sócrates, para leiloar a tão estimada Universidade de Lisboa, devido à falta de financiamento por parte do governo. A partir do próximo ano, a U.L. vai ter um défice de 6 milhões de euros, tornando impossível a gestão pública desta instituição. Estão abertas desde já as licitações. Agradeço que os licitadores não só proponham um valor para a compra, como também se apresentem, especificando por que razão seriam os melhores gestores desta Universidade. O senhor aí, por favor.
Paulo Teixeira Pinto – Então muito boa tarde, o meu nome é Paulo Teixeira Pinto e, como o resto das personalidades aqui presentes, foi-me reconhecido o mérito para estar presente na Assembleia Estatutária que decidirá os destinos desta instituição. Como devem saber, recebi ainda há pouco tempo uma reforma choruda do banco que geria, o BCP, como reconhecimento do meu esforçado trabalho durante vários anos…
Charles Buchanan – (com pronúncia inglesada) Boa tarde, eu sou o Charles Buchanan Jr e sou o Presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, cargo para o qual fui directamente nomeado pela excelentíssima Administração Norte-Americana, presidida pelo senhor George W. Bush. Ofereço 6 milhões de euros e uma ligação privilegiada às grandes multinacionais norte-americanas, na condição de explorarmos todas as patentes produzidas na universidade. Posso não ter tanto currículo, mas sem dúvida tenho muito mais power!
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Eduarda Dionísio sobre João Martins Pereira
2. É verdade que JMP sempre acreditou mais em si como homem de saber (preciso), de pensamento (claro) e de escrita (concisa) do que como «actor» de sessões públicas, ecrãs e microfones. E de cargos. A passagem por uma Secretaria de Estado foi uma grande e curta excepção. Aguardo, ansiosa, que alguém se ponha a estudar a sua agenda de trabalho, que ele depositou no CD 25 de Abril.
JMP é um caso raro. Arrisco: o único intelectual de esquerda do pós-guerra, nesta terra, sem qualquer sedução pelo «estrelato», o reverso da vedeta. Um homem das economias, formado nas engenharias, para quem as artes existiam – literatura, evidentemente; cinema, muito; teatro, algum; pintura também.
3. Lembro-me bem da sua caligrafia miúda e da paginação do que escrevia à mão, com margem certa, mais rigoroso do ninguém, entregue sempre a horas, para publicação (no Combate de uma certa altura, nos Cadernos do Elefante, edições mais «marginais» do que outra coisa) ou para ajudar os outros (uma fui eu) a escrever sobre assuntos de que ele sabia mais – disponibilidade sem medida.
4. Sem ele, nunca teria tido uma relativa segurança quando me meti em «aventuras».
É difícil de descrever e avaliar a sua invisível participação na 1ª campanha das Europeias do PSR, em 1987, quando se tratava de dizer que a Europa não era aquela, com vários independentes, entre os quais ele: a sua atenção e rigor limparam e enriqueceram (factos, parênteses, números, ideias) os textos inicialmente escritos a duas mãos, pelo Jorge Silva Melo e por mim.
Nunca os 10 anos da Abril em Maio teriam sido aqueles que foram, se não tivesse sido ele a escrever a convocatória para os dois fins-de-semana de festa onde a Abril em Maio nasceu.
5. Escrevi muitos papéis, anónimos, colectivos, quando ele não estava ou já não estava ali, a pensar «como é que o JMP escreveria isto?» ou «o que é o JMP pensará disto?»
Por isso, não sei como é possível andar-se pelas esquerdas sem nunca ter lido O Reino dos Falsos Avestruzes ou como se JMP não o tivesse escrito.
JMP (que não acreditava em frentes com inimigos de raiz tornados amigos de superfície) foi e continuará a ser para mim uma referência que não morre. Sou quase incapaz de escrever sem citar umas frases suas que dizem o que não sei dizer de outra maneira: que os dois anos do chamado PREC foram os únicos em que milhões de pessoas viveram no verdadeiro sentido da palavra; que não é possível confundir «empenhados» e «alistados».
Aprendi com ele que o «não me apetece» é o maior critério para as recusas – o apetite e o não apetite têm política dentro.
6. De há um tempo para cá, tenho tido saudades do JMP e agora vou ter mais ainda. A sua morte abre um grande buraco, que se acrescenta a outros. Gostava de ter pelos menos 50 páginas à disposição para poder falar dele.
Eduarda Dionísio
14-11-08
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
a menina pires diz que há uma hipótese
fazendo uma mise
ultrapassar os espanhóis
no consumo de caracóis
escrever cem vezes numa folha
as leis da rolha
combater o desemprego
com mais polícia
acabar com o emprego
com mais perícia
dar à crise financeira
uma vaca leiteira
e quando faltar dinheiro
pagar o jantar ao banqueiro
sermos mais tolerantes
como éramos dantes
pôr na televisão fado
e revivalismo furtado
avançar com o despedimento
para viver o momento
sair da cauda da europa
e ir para os dentes da europa
o país desaparece
e com ele o iérreésse
e por fim descansados
no monitor sentados
acender virtualmente a lareira
pôr a manta e a joelheira
clicar no progresso
e chorar o último impresso
domingo, 5 de outubro de 2008
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Rita Canário
a cabeça que atirava para o lado
a voz rouca o riso contido
uns “não é?” no fim das frases
vi-a também a chorar
e também com muito muito álcool
uns “não é?” muito doces às vezes
com a voz a ficar mais grave e sincera
muito computador e números
e sei lá mais o que estou para aqui a dizer
o que estou para aqui a dizer
sem dizer em voz alta
dantes naquela altura
eu fazia uns jogos que podiam dar por exemplo:
«A Rita dança ao sol com o Olímpio no planeta Asteróide B612 e diz “porquê?”»
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Por isso é que o caminho não é sempre em frente
a rocha grande, o atalho,
a grande plantação de malmequeres,
o alcatrão demasiado liso,
um farol a apontar para trás
Por isso é que o caminho não é sempre em frente
o lixo, a pergunta, a esquizofrenia,
a polissemia das ideias,
o regato fresco em horas de sol,
a cancela e o cartaz a dizer:
«detido pelos detentores»
Por isso é que o caminho não é sempre em frente
o ar, os aviões, as nuvens
as cavernas de estalactites
até ao coração quente da terra
e buracos negros
sábado, 16 de agosto de 2008
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
C. C.
Venha calçado.
Tape várias partes do corpo.
Traga dinheiro ou um cartão bancário.
Apague o seu cigarro e entre.
Deixe o cão na rua.
Se não tiver telemóvel traga trocos para as cabines.
Ande.
De trás para a frente, de um lado para o outro.
Não se sente nas escadas.
Não corra nos corredores.
Coma e compre.
Beba e babe-se.
Saia e acenda o seu cigarro.
Revolução
É o melhor para o amor
É o melhor para a alegria
Veja isto por favor
Tem abertura fácil
Tão prática e barata
Tem muitas cores
Toda a gente quer
Mas tem receio de experimentar
É útil, excitante, indispensável
É urgente, importante, homem e mulher
Toda a gente quer
Mas tem receio de experimentar
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
terça-feira, 29 de julho de 2008
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Falta de amnésia
o presente é um muro
duro
É preciso esquecer para
lembrar o que vai
acontecer
Abre-se a reminiscência
o parto luminoso
aprender
Não existe o espírito eterno
é só brilho ideal e parte
da ignorância
Não podes reencarnar
mas podes convidar filósofos
para jantar
E assim uma mentira grega
pode ajudar a esquecer
a esquecer a verdade
segunda-feira, 21 de julho de 2008
O sextos da Kylakäncra
I
tu numa carcaça vermelha
semi-recheada de estruturas
com bases anti-raio de ligação ao mundo
juntas as pestanas em ralenti
acalmas o tambor do peito
abres os canais e eles quase latejam
queres a estrela só reflexo
articulando a asa está frio
acendes depois de tudo um cigarro
tu numa carcaça vermelha
ela de olhos fechados
ela a dormir e tu não consegues
não és uma máquina
não tens motor
o vermelho grito afinal é teu
II
quatro luzes na ribalta
a luz dos que gritam
a luz dos que sorriem
a luz dos normais
a dos amigos dos animais
a força vem da primeira
a dúvida vem da segunda
o rangedor é na terceira
o veneno vem da última de todas
III
se grande se escreve
com letra pequena
e pequena
se escreve com letra pequena
temos duas pequenas:
uma pequena e outra grande
IIII
o papel mas
no outro sentido
no outro sentido
as letras no mesmo
quando já se virou o sentido
do papel
também se podia virar
o sentido das letras
é tão raro
IIIII
páginas aos sextos mal vincadas
os tímpanos quase furados
um subproduto humano a ajudar
para quê descrever o quadro?
e se um grão de terra do chão
se começar a mexer?
um som a crescer?
de repente
voltaram os tímpanos
seria para durar?
dormir
dor-mir é que era bom
IIIIII
sempre que aquele cão se aproxima
o outro rosna.
é preciso que se afaste um cão do outro!
devem chamar-se muitos cães
e aumentar a confusão;
que a matilha seja um labirinto
para o cão que se aproxima
e para o cão que rosna!
é preciso apaziguá-los
domá-los
catequizá-los!
E que ninguém rosne neste país!
IIIIIII
ouve
quero sair daqui
quero ir-me embora, partir, sumir
fugir
deixa-me fugir contigo
e para onde formos que seja longe
longe mas quente
e as minhas têmporas aí amolecerão
contigo e mar a brilhar em frente
ou então por todos os poros
o mar
quinta-feira, 17 de julho de 2008
elefante
sexta-feira, 11 de julho de 2008
mais uma lição de francês
sombra de dúvida
formada pela ausência parcial da luz,
chanson de la pierre
j'aime bien le révolu
j'aime bien si tu es bête
j'aime le pion et le fou

j'aime l'amèr
j'aime la pierre
de la rue
j'aime mal la douceur
j'aime mal l'amour
j'aime mal la peur
et l'épée de la peur
j'aime la tempête
j'aime la trotinette
j'aime la pierre et le chien
de la rue
(a menina pires dá erros em francês)
terça-feira, 8 de julho de 2008
quarta-feira, 2 de julho de 2008
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Último ano do Curso de Teatro do Conservatório Nacional
1º ano do Curso de Teatro do Conservatório Nacional
a) É dizer de forma que todos compreendam o sentido do trecho que se está dizendo.
b) Como se aprende a dizer bem?
b) Pronunciando com todas as clarezas e com as inflexões indispensáveis a cada palavra articular muito bem, fazendo as devidas pausas e fazendo bem a acentuação etc.
c) A Arte de Representar é indispensável na Arte (digo sem efeito)
c) A Arte de Dizer é indispensável na Arte de Representar e porquê?
c) Porque para ser um bom actor é indispensável ter uma boa dicção para assim ser compreendido pelo os espectadores.
d) O que se entende por Arte de Representar?
d) É encarnar o personagem de qualquer peça.
e) A quem pode interesar a não ser aos artistas de teatro o dizer bem?
e) Aos advogados aos conferentes e a todos os que falam em público.
f) Como é que a Arte de Dizer e a Arte de Representar se conciliam e completam reciprocamente?
f) Porque sem uma ser feita a outra não pode ser.
g)Como se deve fazer a análise de um trecho seja êle prosa ou verso?
g) Compenetrarmo-nos das ideias dos outros e do género e sendo poesias da métrica do verso.
h) Dum modo geral para lêr expressivamente um trecho em prosa ou recitar qualquer trecho em verso a que trabalho preliminar se deve proceder para fazer uma leitura expressiva e uma recitação artística?
h) Compreender bem o trecho e dar-lhe o colorido próprio a cada frase.
i) Como efeito teatral o que se dve procurar dentro de qualquer trecho?
i) A palavra de valor.
domingo, 29 de junho de 2008
citação e colagem
quinta-feira, 26 de junho de 2008
O Maio no Junho
rasteira
tira isso da frente
deixa ver
os pontinhos quadradinhos
... está bem
mas deixa ver
o que está escondido
por trás disso
está escondido
o olho que viu o melro
o melro que viu o bico
o bico que tocou orelha
A orelha é feia
tão feia como o dedo grande do pé
orelha baixa
orelha rasteira
vou para casa
- Vou para casa cortar o cabelo
- Vou para casa mentir às janelas
- Vou para casa e antes às compras
quarta-feira, 25 de junho de 2008
terça-feira, 17 de junho de 2008
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Marquês de Sade, A filosofia na alcova

sexta-feira, 30 de maio de 2008
Da capital
terça-feira, 27 de maio de 2008
Teatros e Cinemas
segunda-feira, 26 de maio de 2008
A estrada do Outão continua a avançar para o mar
sábado, 24 de maio de 2008
terça-feira, 20 de maio de 2008
a trama
essa trama ficou com as dores nas voltas e entroncamentos da linha
a trama da vida de hoje, tramada, a trama das estradas, das ruas, dos caminhos de sinais de trânsito, luzes, pontes e loopings, das redes virtuais e das redes de pesca que cada vez mais apanham peixes petroleados
a trama dos sons, das notas que não se escrevem, dos ruídos, das frases e palavras que se misturam umas com as outras e se ligam e desligam enquanto andamos pela cidade
a trama da nossa cabeça
a nossa cabeça urde e desurde pensamentos, tece e destece ideias e ainda as remenda e ainda as rasga, e tem também nós tremendos lá dentro, alguns tão difíceis de desatar...
e ainda quando nos tramam, todos os dias a todos os minutos
quando eles nos tramam
e ainda da possibilidade que temos de tramá-los a eles
a trama cantaremos se a tanto nos ajudar o engenho e arte
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Mary Pires
Doris Lessing, A erva canta
The way the wind blows (no sentido em que sopra o vento)
the way the wind blows.
They are sitting
but they will go.
The wind blows
the way the wind blows.
They're the dull class
the beggars' shadows
and they sit
and they go.
They will go
the way the wind blows.
O vento sopra
no sentido em que sopra o vento.
Eles estão sentados
mas hão-de partir.
O vento sopra
no sentido em que sopra o vento.
São a chata classe
sombras de mendigos
e sentam-se
e vão.
Eles hão-de partir
no sentido em que sopra o vento.
(anónimo século XVII, tradução menina pires)
terça-feira, 13 de maio de 2008
No quintal
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Tão longe, a guerra
infância1985
As grandes cabeças em vôos com dores mandam lavar as patas.
randori dois
