I
tu numa carcaça vermelha
semi-recheada de estruturas
com bases anti-raio de ligação ao mundo
juntas as pestanas em ralenti
acalmas o tambor do peito
abres os canais e eles quase latejam
queres a estrela só reflexo
articulando a asa está frio
acendes depois de tudo um cigarro
tu numa carcaça vermelha
ela de olhos fechados
ela a dormir e tu não consegues
não és uma máquina
não tens motor
o vermelho grito afinal é teu
II
quatro luzes na ribalta
a luz dos que gritam
a luz dos que sorriem
a luz dos normais
a dos amigos dos animais
a força vem da primeira
a dúvida vem da segunda
o rangedor é na terceira
o veneno vem da última de todas
III
se grande se escreve
com letra pequena
e pequena
se escreve com letra pequena
temos duas pequenas:
uma pequena e outra grande
IIII
o papel mas
no outro sentido
no outro sentido
as letras no mesmo
quando já se virou o sentido
do papel
também se podia virar
o sentido das letras
é tão raro
IIIII
páginas aos sextos mal vincadas
os tímpanos quase furados
um subproduto humano a ajudar
para quê descrever o quadro?
e se um grão de terra do chão
se começar a mexer?
um som a crescer?
de repente
voltaram os tímpanos
seria para durar?
dormir
dor-mir é que era bom
IIIIII
sempre que aquele cão se aproxima
o outro rosna.
é preciso que se afaste um cão do outro!
devem chamar-se muitos cães
e aumentar a confusão;
que a matilha seja um labirinto
para o cão que se aproxima
e para o cão que rosna!
é preciso apaziguá-los
domá-los
catequizá-los!
E que ninguém rosne neste país!
IIIIIII
ouve
quero sair daqui
quero ir-me embora, partir, sumir
fugir
deixa-me fugir contigo
e para onde formos que seja longe
longe mas quente
e as minhas têmporas aí amolecerão
contigo e mar a brilhar em frente
ou então por todos os poros
o mar
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