terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Challenge:

Create an image out of a word, using only the letters in the word itself. Rule: Use only the graphic elements of the letters without adding outsid...

a Natália de Andrade também não quis impante de voz

a Natália Andrade também não quis implante de voz

domingo, 1 de janeiro de 2012

tempo de (não) vida

as pessoas fecham
escurecem, ficam sem cor
retraem, secam,
endurecem
fazem que esquecem

as pessoas
aprendem a ser infelizes

sábado, 31 de dezembro de 2011

Magníficos monstros

Magníficos monstros
da rocha da matéria da terra
por homens feitos construídos
com a matemática do andaime a afiar
e uma trupe de escravos a aumentar

Os magníficos a quem se fala pede confia
de quem se roubam as vontades
a anima
os monstros que rugem ou calam
os monstros desumanos por nós inventados
que só troam que não falam
que bebem e comem mas não costuram

O som  dos magníficos monstros
o queixo a cair
por dentro por fora
nós ali
a querer sentir-nos minúsculos
e sem poder ser outra coisa
minúsculos

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

domingo, 25 de dezembro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

úlcera

Acordo com cinquenta e tantos anos e não percebo o que é que ainda ando para aqui a fazer, para quê. Vivi tanto. Já sei do amor, do ódio, da raiva, da alegria, da injustiça, da organização, da violência, da mentira, da liberdade, da prisão. Descobri aos quinze anos, com ingenuidade e muitos erros, uma arte e um ofício. E a partir daí tantos outros. Porque quando se estuda um papel não estamos sozinhos mas já em diálogo. E para montar a cena é preciso inventar luzes e cenários e depois montá-los, e falar com o ginásio do bairro para pedir cadeiras. E quando tudo está montado é preciso pintar um cartaz e fazer cola e colá-lo. E ainda escrever textos para os outros a quem vamos mostrar tudo, a contar os caminhos por onde passámos e que fazem a exigência de isto ser feito. E mais as falhas, os pormenores, os imprevistos. Lidar com mais gente, saber as diferenças das relações de uns com outros. Berrar muito nas longas reuniões e nos pequenos passos do dia-a-dia e saber que isso não é ódio nem o fim do mundo. Berrar de morte com aqueles com quem dormimos e com quem acordamos. Quando veio o dia da revolução já tínhamos trinta anos e achámos primeiro que já éramos velhos para aquilo, que aquilo já não era para nós nem ia ser feito por nós. Mas afinal de contas éramos nós aquilo. Afinal os processos em curso chamam-nos, pedem-nos tantas coisas e tudo muda tanto que voltamos a vestir t-shirts que nos deixam as primeiras rugas a descoberto e é a isso que chamamos bonito. E voltamos a acampar pelas terras e a conhecer mais do mundo da província, onde falta fazer tanta coisa e as pessoas nos oferecem vinho de bom grado. E fazemos mais coisas que nunca. E continuamos a discutir de morte com quem dormimos e com quem inventamos o que há para fazer. Depois as coisas começam a andar para trás. Muitos querem o descanso e o conforto da vida normal das telenovelas da noite. É grande o ataque da normalidade e o poder de certos ganhos de alguns. Muitos desistem, tudo desiste, o mundo desistiu. E nós que aprendemos tanto, que transformámos e inventámos as maneiras de fazer as nossas coisas e ainda sonhamos com um mundo às avessas e não sabemos bem o que é sonhar nem dormir, continuamos a tentar fazer as nossas coisas mesmo assim. De maneiras que se tornam cada vez mais estranhas e difíceis, num mundo que já não parece passar pelas nossas mãos. De repente já não há tanta gente à volta. E se alguém prega um prego, e tantas vezes continuo a ser eu, o nome desse alguém tem de vir impresso em letras formatadas pela máquina e já não pintadas à mão com o traço torto dos pincéis gastos de andanças, e o papel tem de ser brilhante e já não papel manteiga ou almaço, e deve dizer: “especialista de pregar pregos CL70: nome próprio e apelido”. E se alguém chega para dar uma mãozinha, isso então chama-se “voluntariado”. Chamam-nos loucos a nós que continuamos a discutir nesta altura do campeonato, vermelhos, as palavras usadas pelo escritor X no poema Y, ou o plano inicial do filme tal, ou as teorias de um pensador do princípio do século passado comparadas com as larachas do opinion maker convidado para ir ao telejornal, ou a ideia disparatada ou incrível que alguém deu na reunião de terça-feira, ou a melhor maneira de montar a exposição e de pendurar o projector do canto. Chamam-nos loucos a nós que nem sabemos como começámos a discutir mas que passamos três horas nisso, levando a sério, demasiadamente a sério, toda e qualquer palavra dita por nós ou por um dos outros. Chamam-nos loucos, alcoólicos, utópicos, rezingões, pequeninos. E às vezes quando acordamos pensamos que já não somos deste mundo, que nada do que fazemos interessa, que já não temos forças, que agora sabia bem aprender com os outros que se reviram nas telenovelas da noite, aprender a descansar, a não ligar, a fechar os olhos, a fazer férias de dois meses nas Caraíbas deitados em redes. Vou deixar de pregar pregos, de escrever livros, de encenar espectáculos, de acartar com móveis, de pintar quadros, de editar panfletos, de mandar cartas, de falar com as pessoas do bairro, de cantar, de inventar, de colar cartazes e puxar cordas, de ter ideias para as reuniões. Vou deixar-me dormir, acordar, comer, ler o jornal uma vez por semana, dar beijos na testa daqueles com quem durmo. E passado um mês ou dois vou perceber o que restou: a camisa aos quadrados, a esferográfica preta na mala, as aguardentes depois do almoço e do jantar, os cigarros, a memória das datas e uma úlcera a nascer no estômago.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

¿dónde quedo yo?


Soy tu madre, soy tu hija, soy tu amante, soy la chica que limpia tu casa.
Soy la esclava de tu vida, soy la dulce y educada que siempre dice que sí.
Soy aquella a la que buscas cuando tienes un problema y quieres un abrazo.
Soy aquella a l...a que tocas por las noches cuando duerme aunque te diga que no.
Turururu tutu tururu tuuu, en el mundo existes tú.
Turururu tutu tururu tuuu, ¿dónde quedo yo?
soy aquella a la que mientes cuando quieres conservar tus privilegios,
soy aquella a la que silvas por la calle, a la que tratas como objeto sin cerebro o corazón.
Soy tu amiga y compañera a la que acosas en las fiestas de los centros liberados.
Soy aquella que te mira cuando bajas la cabeza si alguien te llama agresor.

Turururu tutu tururu tuuu, en el mundo existes tú.
Turururu tutu tururu tuuu, ¿dónde quedo yo?

Soy aquella a la que juzgas por quedar con sus amigas y formar un colectivo,
"colectivo de mujeres, ¡Qué carajo, vaya nazis!, ¿porqué no puedo entrar yo?"
Como un ente omnipresente crees tener razon en todo y hablas de lo que no sabes,
te escudas en tus misterios, tus secretos y tu cuerpo y andas con seguridad.

Turururu tutu tururu tuuu, en el mundo existes tú.
Turururu tutu tururu tuuu, ¿dónde quedo yo?

Y se te llena la boca hablando de mis derechos y de feminismo.
Te agarras a mi discurso, te lo aprendes, te lo quedas para hablar de tu opresión (pobrecito)
Seas hippy, libertario, lleves rastas, lleves cresta o si vives okupando
Seas terco o reformista que se cuelga la chapita, tengas un grupo de hombres o seas anarkopunk.

ME DA IGUAAAAAAL! piensa en lo que digo,
ME DA IGUAAAAAAAAL! No vayas de listo por la vida por favor...

domingo, 27 de novembro de 2011

FMI, Fátima, Futebol e Património Mundial Imaterial

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 22 de novembro de 2011

ocupar a net

temporariamente desocupada

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Elas


O texto, de Maria Velho da Costa, já tinha a sua silhueta aqui.

grevista e amarelo

grevista e amarelo
conversam animadamente
sobre o sistema
um diz que é injusto assim
outro diz que é injusto, e é mesmo assim
um diz que podemos pegar nisso
outro diz que podemos perder o emprego se pegarmos nisso
um diz que emprego já estamos a perder
outro diz que há muita coisa aí para fazer
um tem receio de que não chegue
outro tem medo de que seja demais
um acha que já vai tarde
outro acha que ainda é cedo
ambos 99% insatisfeitos com o capitalismo
enquanto um terceiro capitaliza a insatisfação
- juro
o caso é verídico
grevista e amarelo
distraem-se conversando no café
debatendo a greve
e nenhum deles trabalha
um não atende os clientes
outro nem sequer vai fazer o piquete de greve
e um pombo come os restos do pão no café

terça-feira, 8 de novembro de 2011

o último a dormir apaga a lua


[roubado do facebook de Cléo Guingo]

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Eles têm a faca e o queijo na mão...

e nós temos o garfo e a marmelada.



quinta-feira, 3 de novembro de 2011

poema para o fragmento de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

gostava de saber o título de ver a legenda
uma mulher a jogar futebol é um fragmento
com seu cabelo armado
que afinal ela nasceu foi para agradar ao homem
que afinal ela nasceu foi para estar em casa
para fazer montes de exercício físico mas às escondidas
não em espectáculo
que afinal ela também tem ginástica na escola
e também sabe chutar uma bola
mas o que ela tem é de ter o cabelo penteado
mas também tem o dever de ter um corpo são
mas ai dela que caia ao chão
que afinal ela nasceu foi para ser enfermeira
que afinal ela nasceu foi para ser secretária
que afinal ela nasceu foi para levar a cerveja aos espectadores
gostava de saber se é uma aula
porque finda a escola nunca mais toca numa bola
porque com trinta anos já vive em casa para sempre
porque andamos para aqui para que os homens brilhem
e o trabalho de sapa faz-se às escondidas
e o lixo e as retretes e os curativos e as secas
vão sempre ser feitos pelas bonecas
cem anos depois

poema para o desenho vinte e três de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

alentejano o nariz de vinho vermelho
o vinho vermelho no nariz do alentejano
o barrete de ribatejano no alentejano
o capote alentejano no do barrete ribatejano
o cajado e o capote e o nariz vermelho
a gravata e as botas e os olhos pegados
tortos a ver só o vinho à frente
sem profundidade nem perspectiva
que as pessoas do campo e do alentejo
são tristes de vinho e têm pouco pra pensar
só na morte da bezerra branca de ontem
e nada de cooperativas que eu ainda sou miúdo
e ainda vivemos na ditadura e o povinho
ainda é alentejano de nariz de vinho
com barrete de ribatejano eh toiro
lá nos campos as pessoas são todas assim

poema para o desenho vinte e dois de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

eu sei muito bem como são os holandeses
são uns senhores de socas que fumam cachimbo
enquanto tratam da terra com um ancinho
no livro do meu tio
os holandeses têm calças às riscas e gorros na cabeça
por causa do frio

Acabar com tudo

Primeiro arrumar tudo o que ficou a meio,
tirar da cabeça
depois encostar às boxes.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

dois de novembro


a minha não faz sentido
será que dormindo
mais claro
menos clara
menos cara menos coração
mais ar só ar e árvores faz
isso sentido?

sem coração sem intenção sem criação sem
as forças das raízes dos pés a esticarem-se para a boca

a atirar pedras sílicas sílex pederneiras
cabeças de lanças da nuvem da certeza
à la deus-dará

o inverno era a rua ser de sintra fria e poças de reflexos turvos
o vento guilhotinava
a garganta congelada
a ganhar espaço para as moléculas incharem

a dificuldade

Poema Antigo

dorsal magenta
pesadas e de ferro maceram os ligamentos
já não se vê a ponta do fio
o novelo que seguro é do tamanho do mundo
esconde o olho a alface...
há incríveis sensações
romperam-me os pés
línguas de camaleão
sempre nunca mais deito
continuas a rir-te de costas para o outro lado
aceso como pinheiros
faço que sei que sossego
a caluda
houve gotas roxas na cascata da cozinha
vai ela a passar outra vez
ódio, nojo, demónio
cuspo, raiva, aspirador
sola do sapato contigo
o azul lá lá lá continua
seca o que salga água tépida
às escuras mastros cinzentos e farol preto
mas uma vez um dia amanhã
secura dos lábios-chumbo
porcas soltas cabeça cheia
ainda a ranger
com veneno, com cicuta, com x-acto
e pelo beiço
antes e depois já não são tempos
os risquinhos do traço impossíveis ganharam
nuvem

domingo, 30 de outubro de 2011

Bestiário


[Nota: ver sem som!]

sábado, 29 de outubro de 2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

canaille



You are the one
For me for me for me
Formidable
You are my love
Very very very
Véritable

Et je voudrais pouvoir un jour
Enfin te le dire
Te l'écrire
Dans la langue de Shakespeare
My daisy daisy daisy
Désirable
Je suis malheureux
D'avoir si peu de mots à
T'offrir en cadeau
Darling I
Love you love you
Darling I want you
Et puis c'est à peu près tout

You are the one
For me for me for me
Formidable

You are the one
For me for me for me
Formidable
But how can you
See me see me see me
Si minable

Je ferais mieux d'aller choisir
Mon vocabulaire
Pour te plaire
Dans la langue de Molière
Toi
Tes eyes ton nose tes lips adorables
Tu n'as pas compris
Tant pis
Ne t'en fais pas
Et viens t'en dans mes bras
Darling I
Love you love you
Darling I want you
Et puis le reste on s'en fout

You are the one
For me for me for me
Formidable
Je me demande même pourquoi je t'aime
Toi qui te moques de moi et de tout
Avec ton air canaille canaille canaille
How can I love you

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Quero morrer



Quero voar
- mas saem da lama
garras de chão
que me prendem os tornozelos.

Quero morrer
- mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.

E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
- tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas...

(Mas qualquer balançar ao vento
me parece liberdade.)

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sangue do nariz da orelha das unhas dos lábios

sangue do nariz da orelha das unhas dos lábios
sangue dos dentes
úlceras ignotas
o trabalho imparável torturoso forçado
das plaquetas
a dor, o rasgo, os cortes, as feridas
os mucos do ataque e da defesa
o ardor a lambidela o alívio a vergonha a introversão
querer meter-se o corpo do avesso
e dormir dois meses
no casulo
a criar carapaça

domingo, 16 de outubro de 2011

Já não dá

«dedicado a tod@s @s indignados que subiram ontem as escadarias de são bento e disseram basta de canibalismo social (capitalismo+racismo+machismo+​mais outros ismos). não pagamos!»
Chullage (via facebook)

já não dá (saímos para a rua) by beatweenus

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

no foyer

no foyer
homem gillette, bronzeado marlboro
fato claro camisa azul
mostra ao jardim
o que é esta sociedade
pose cínica pés de barro
medo perfumado

cada um por si
como diz ali no outdoor
enquanto se fingem civilizações
e se treinam composturas
abrindo bárbaras narinas
arrogando o olhar

julgando que sucesso é lugar
julgando que champô é pensar
julgando que tempo é dinheiro
cinismo vomitando o dia inteiro

terça-feira, 4 de outubro de 2011

quando

quando os pássaros voltarem a ser livres
e os sonhos forem mãos a desenhar
as gaiolas deixarão de ter sentido
saberás o que água quer dizer
a mudança há-de ser imperceptível
para aqueles que só gostam de morrer
mas as coisas já não servem para o jugo
as bocas vão ter fome de outro dia

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ofereço a letra


L'avion rose

Fechado aberto o pulmão de CORAÇÃO
O MEU CORAÇÃO DE PULMÃO
A SANGUE FRIO A RESPIRAR EM LATA
FECHADO ABERTO AS PESTANAS
RESPIRAR
O ALÍVIO DA NOITE EM CIMA
EM SEXTO ANDAR
EM DUAS EM DUAS E OITO
Fechar abrir os olhos o programa a resposta
mudar o erro emendá-lo nunca possível
As peças de vidro e líquido já se sabiam buscar sozinhas
sobe-se ao banco não se pede à mãe
sem amigo de sorriso
sem a rede da corda de corda sem coração
Os carros em baixo a mais de mil e duzentos
como ondas do mar da natureza da sintra longinquíssima
mistiquíssima demais
A fala
a que cala
a que despe a pala
e nua se mostra se abre a prometer mel
em fúria
sem rasgo de sinal para onde possa ir
quem querer o mel
sinais soltos num papel de gordura
As casas criadas com tanta segurança
o nojo do ódio do rico da pança
e aquela máscara de ódio
O medo

Fugia-se do medo sempre a sete patas
quando a noite estreitava assim as cinturas
e dilatava as ideias
deformando
e aconchegava com vidro com pulmão
decoração
azeite por cima sempre a gritar ao óleo
eu é que sou!
Os travões amigos aconchego com guinadas
o mar dos carros
o sopro do vento que hoje não se ouvia
mas que fazia parte das janelas

E a tua voz a desculpar o outro a admirá-lo a sê-lo também tão bem
e eu a saber que então também te tenho asco porque és assim
porque são iguais:
o amor o amante o pai o filho que nunca quero ter porque mais é demais
Lesbos era uma ilha que se delineava ao longe e acenava alguém de lá
e sempre a nossa jangada a via ao longe
e sempre levada seria pela mesma corrente da saga raga

E as palavras queria que alguém as pegasse
e saberia desde início que eram impegáveis
as palavras as palavras
com que queria gritar-te a vida a tua a minha a dos que cá bebem
em suas caixinhas
e afinal nada sabia eu disso tudo e não queria saber
queria só cantá-las
e não arranhava uma corda de nenhum instrumento de sopro
rasgar grunhos antigos restava bastava assava
mas não saía paria azevia
acenar e gritar esgarçar ruliminar

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

poema para o desenho vinte e um de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

O paquete Nyassa tinha a âncora agarrada ao casco
e o casco de ferro como convém aos piquetes que não levam a paz
Era grande de chaminés e apitos fumegantes
e esburacado de furos para os canos de fogo
Os arames e os cabos sem velas
a casota blindada e pessoas nem vê-las
Só tem pátria o piquete paquete Nyassa
só tem mar à volta e uma lanterna vermelha
O paquete imponente como se aguenta na água?
Não afunda não afunda nem na maré vaza
Será que não afunda? tem retorno torna a casa?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

como descer aos infernos provando que a vida não está escrita


os dois a cair por uma ribanceira a cair a cair sem rede
sem ser bom
e depois no fim chegámos mesmo lá abaixo
e lá em baixo descobriste que havia uma escada por onde tudo seria mais fácil
uma escada
com degraus com estrutura com construção
feita pelo Homem

"nos sonhos é-se vivo não se morre
aliás essa é a única vantagem"

cá na vida já nos estatelámos

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O meu a meu dono

A Regina Guimarães também gosta muito de pensar nisto tudo.


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

outros olhos

eu acho que o amor move montanhas, faz girar o mundo
o ideal, mas sobretudo o correspondido
que se traduz depois nas coisas práticas
em tudo
e não vejo coisa mais interessante no mundo que as relações entre pessoas
não fosse isso e nada disto tinha interesse
nada disto me dava para pensar
ou para divagar, ou para fazer canções e escrever poemas
e conversar e beber copos e dançar
se não fosse isso
das relações entre as pessoas
do amor e do ódio
das aproximações e afastamentos
dos pactos de relação, românticos ou empresariais
desvendar isso, experimentar isso, arriscar, descobrir a forma mais livre, saber as formas mais opressivas ou emaranhadas
ver os outros, pensar os outros, pensar em nós, pensar nós com os outros que já têm relações uns com os outros
tentar mudar isso, mudar o mundo, fazer a luta juntos
("não se pode ser feliz sozinho")
se não fosse isso éramos antílopes ruminantes no cimento e no silêncio
mas não somos
estamos cá para mudar isso
estamos cá porque não somos isso
nunca fomos isso
se vemos isso noutras pessoas ao lado
é porque temos de mudar o mundo
as relações como andam a ser feitas
os casamentos mudos
as rotinas
as relações desiguais autoritárias hierárquicas sufocantes
repetidas desinteressantes não produtivas
tudo o que a nossa nunca foi
a nossa que interrogou tanto isso o tempo todo
a nossa que criou novos objectos
novas relações novos caminhos novas ideias
a nossa que juntou pessoas que mudou outras pessoas
que mudou formas de fazer as coisas à nossa volta
a nossa é que mudava o mundo

smother love



Crass - Smother Love, from Penis Envy.

Smother Love.
The true romance is the ideal repression, that you seek,
That you dream of, that you look for in the streets,
That you find in the magazines, the cinema, the glossy shops,
And the music spins you round and round looking for the props.
The silken robe, the perfect little ring,
Will gives you the illusion when it doesn't mean a thing,
Step outside into the street and staring from the wall
Is perfection of the happiness that makes you feel so small.
Romance, can you dance? D'you fit the right description?
Do you love me? Do you love me? Do you want me for your own?
Do you love me? Say you need me, say you know that I'm the one,
Tell me I'm your everything, let us build a home.
We can build a house for us, with little ones fellow,
The proof of our normality that justifies tomorrow.
Romance, romance. Do you love me? Say you do,
We can leave the world behind and make it just for two.

Love don't make the world go round, it holds it right in place,
Keeps us thinking love's too pure to see another face.
Love's another skin-trap, another social weapon,
Another way to make men slaves and women at their beckon.
Love's another sterile gift, another shit condition,
That keeps us seeing just the one and others not existing.
Woman is a holy myth, a gift of mans expression,
She's sweet, defenceless, golden-eyed, a gift of gods repression.
If we didn't have these codes for love, of tokens and positions,
We'd find ourselves as lovers still, not tokens of possessions.
It's a natural, it's a romance, without the power and greed,
We can fight to lift the cover if you want to sow and seed.
Do you love me? Do you? Do you? Don't you see they aim to smother
The actual possibilities of seeing all the others?
Do you love me? Do you? Do you? Don't you see they aim to smother
The actual possibilities of seeing all the others?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Corte de cabelo e pratos partidos

Foi vista nas salas do youtube a silhueta da menina pires, que - enquanto roubava e passava material - ameaçou cortar a cabeça mas resolveu apenas cortar o cabelo. A fraca.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

domingo, 4 de setembro de 2011

só o que se espera ardentemente nos chama



















"...só o que se espera ardentemente nos chama, sobretudo nas épocas de perplexidade, onde a força da desilusão e do desencanto não é comparável senão à da expectativa renovada de que não sabemos desistir."

Mário Dionísio, Conflito e unidade da arte contemporânea (conferência na SNBA, 1957)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011