O Grémio Lisbonense, associação com mais de 150 anos sediada na Baixa de Lisboa (virada para o Rossio), recebeu ontem ordem de despejo.
Muita gente se deslocou ao local ontem para defender o Grémio, a sua dinâmica cultural e do seu valor histórico.
No texto em anexo (e em baixo) conta-se o que lá se passou. A polícia teve uma atitude inqualificável de irresponsabilidade, incompetência e violência. Reprimiu um protesto pacífico à bastonada, batendo e ameaçando inclusivamente vários jornalistas.
E depois: um rapaz detido foi espancado e ameaçado violentamente na esquadra por um dos polícias que estava presente na operação do Grémio.
Vamos continuar a defender o Grémio Lisbonense, instituição de utilidade pública, valor histórico e intervenção social insubstituível, aberta a todos. Vamos continuar a defender a dinâmica cultural da Baixa de Lisboa. Contra a Lisboa desocupada, das casas emparedadas, da especulação imobiliária e dos negócios de luxo.
Acabemos também com a violência policial e a impunidade, na rua e nas esquadras.
Estas histórias têm de ser contadas.
O que aconteceu no Grémio Lisbonense e depois.
O grémio recebeu ontem uma ordem de despejo.
A partir de meio da tarde (cerca das 16h) começaram a juntar-se mais pessoas à porta. Passada uma hora eram cerca de 50 sócios e amigos e alguns jornalistas e fotógrafos (Lusa, jornal Público, Jornal de Notícias, etc). Às 19h eram mais de 100 pessoas de todas as idades.
Dois polícias à porta permanentemente. Os sócios eram impedidos de entrar, tirando alguns membros da direcção e aqueles que tinham de tirar de lá alguns objectos. Uma carrinha de mudanças foi sendo carregada com alguns haveres que não pertencem ao Grémio (instrumentos, coisas do bar, etc). No entanto todo o espólio do Grémio ficou lá. Uma cadeira de barbeiro saíu e houve assobios dos presentes. A cadeira não é propriedade da Associação, mas foi vista por alguns dos presentes como um símbolo deste despejo precipitado. Alguns dos proprietários estiveram no local. Cumpria-se a ordem do tribunal. Fez-se um inventário dos bens.
Cerca das 19h as pessoas que se juntaram para defender o espaço começaram a discutir o que fazer, a questionar a legalidade do despejo e a necessidade de o fazer, uma vez que estava já marcada uma reunião na Câmara Municipal de Lisboa para quarta-feira próxima, com a presença da direcção do Grémio e dos proprietários para negociar uma solução que permitisse a continuidade das actividades culturais da Associação, a preservação do edifício histórico. Houve várias ideias para não permitir o despejo, informar a comunicação social, fazer pressão para que o Grémio não fosse despejado. Fez-se uma assembleia improvisada no átrio da entrada, no rés do chão. Houve esclarecimentos de um membro da direcção que reafirmou a possibilidade de se encontrar uma solução. Um membro do gabinete da câmara do vereador José Sá Fernandes também falou da negociação de quarta-feira, explicando as diligências que podem ser feitas na Câmara.
A advogada do Grémio esteve presente no local, falou muito brevemente da possibilidade de uma negociação e anunciou uma conferência de imprensa pelas 19h30 no seu escritório, longe dali.
Os presentes não saíram do local. Continuaram a discutir. Alguns sócios queriam entrar no Grémio. Discutiu-se a possibilidade de reunir lá dentro e decidir com calma o que fazer. Numa segunda assembleia improvisada, de novo no átrio de entrada, enquanto se preparavam acções de sensibilização e protesto até à quarta-feira seguinte, levantaram-se várias vozes que defenderam que se subisse ao primeiro andar. Muitos subiram. Um polícia pergunta “o que é que fazem aqui?” e começa a empurrar e agredir os primeiros a subir a escada. As pessoas não desmobilizam. Protestam contra a violência despropositada da polícia.
Cinco polícias estão lá em cima. Cassetetes na mão. Os ânimos aquecem. Algumas pessoas apelam à calma. Um membro da direcção apela à calma e volta a reafirmar a possibilidade de se suspender o despejo e arranjar uma solução para o Grémio continuar vivo, que passasse simplesmente por uma actualização da renda. Algumas pessoas pedem identificação da polícia por lhes terem batido.
Grita-se: “ O Grémio é nosso!”, “Lisboa a quem a vive” e palavras contra a repressão policial. Chegam reforços policiais (mais um dez polícias) que tentam abrir caminho à força pelas escadas para chegar ao primeiro andar. Todos as pessoas se sentam no chão, dificultando a passagem da polícia. A polícia não está com meias medidas, começa a bater indiscriminadamente em todos, criando o caos. Várias pessoas magoadas e esmagadas. Fotógrafos e jornalistas agredidos. Ouvem-se gritos. As pessoas protegem-se, defendem-se como podem. A polícia bate com cassetetes, empurra e pontapeia. Varre à pancada a escada. As pessoas saem do edifício para a rua. Há cabeças partidas, e muitos queixam-se de terem sido agredidos. Pelo menos um jornalista e um dos que estavam na escada pacificamente ficam no átrio de entrada (rés-do chão).
Depois de alguns diálogos infrutíferos entre a polícia e as pessoas que ali se encontravam, os polícias fazem um cordão cá em baixo, já na rua e começam a dizer às pessoas para circular. Várias viaturas da polícia estão estacionadas no Rossio, junto ao Grémio. As pessoas protestam contra a violência policial. Concentram-se ainda durante algum tempo à frente do Arco do Bandeira (o arco debaixo do Grémio).
... e depois:
As imagens da TVnet mostram imobilizado no chão um rapaz. Este rapaz, que nunca agrediu nenhum polícia e apelou repetidamente à calma, foi detido e levado para a esquadra.
Na esquadra foi fechado numa sala, foi espancado violentamente (com socos, com uma cadeira, etc), foi ameaçado e torturado durante horas por um dos polícias que estava na operação, um polícia da esquadra da Estefânia de uma posição hierárquica superior. O rapaz violentado pôde telefonar a chamar advogados e amigos que, depois de finalmente sair da esquadra (cerca das 3 da manhã, seis horas depois de ser levado para a ), o levaram ao hospital. Tem várias lesões no corpo e na cabeça.
Muita gente se deslocou ao local ontem para defender o Grémio, a sua dinâmica cultural e do seu valor histórico.
No texto em anexo (e em baixo) conta-se o que lá se passou. A polícia teve uma atitude inqualificável de irresponsabilidade, incompetência e violência. Reprimiu um protesto pacífico à bastonada, batendo e ameaçando inclusivamente vários jornalistas.
E depois: um rapaz detido foi espancado e ameaçado violentamente na esquadra por um dos polícias que estava presente na operação do Grémio.
Vamos continuar a defender o Grémio Lisbonense, instituição de utilidade pública, valor histórico e intervenção social insubstituível, aberta a todos. Vamos continuar a defender a dinâmica cultural da Baixa de Lisboa. Contra a Lisboa desocupada, das casas emparedadas, da especulação imobiliária e dos negócios de luxo.
Acabemos também com a violência policial e a impunidade, na rua e nas esquadras.
Estas histórias têm de ser contadas.
O que aconteceu no Grémio Lisbonense e depois.
O grémio recebeu ontem uma ordem de despejo.
A partir de meio da tarde (cerca das 16h) começaram a juntar-se mais pessoas à porta. Passada uma hora eram cerca de 50 sócios e amigos e alguns jornalistas e fotógrafos (Lusa, jornal Público, Jornal de Notícias, etc). Às 19h eram mais de 100 pessoas de todas as idades.
Dois polícias à porta permanentemente. Os sócios eram impedidos de entrar, tirando alguns membros da direcção e aqueles que tinham de tirar de lá alguns objectos. Uma carrinha de mudanças foi sendo carregada com alguns haveres que não pertencem ao Grémio (instrumentos, coisas do bar, etc). No entanto todo o espólio do Grémio ficou lá. Uma cadeira de barbeiro saíu e houve assobios dos presentes. A cadeira não é propriedade da Associação, mas foi vista por alguns dos presentes como um símbolo deste despejo precipitado. Alguns dos proprietários estiveram no local. Cumpria-se a ordem do tribunal. Fez-se um inventário dos bens.
Cerca das 19h as pessoas que se juntaram para defender o espaço começaram a discutir o que fazer, a questionar a legalidade do despejo e a necessidade de o fazer, uma vez que estava já marcada uma reunião na Câmara Municipal de Lisboa para quarta-feira próxima, com a presença da direcção do Grémio e dos proprietários para negociar uma solução que permitisse a continuidade das actividades culturais da Associação, a preservação do edifício histórico. Houve várias ideias para não permitir o despejo, informar a comunicação social, fazer pressão para que o Grémio não fosse despejado. Fez-se uma assembleia improvisada no átrio da entrada, no rés do chão. Houve esclarecimentos de um membro da direcção que reafirmou a possibilidade de se encontrar uma solução. Um membro do gabinete da câmara do vereador José Sá Fernandes também falou da negociação de quarta-feira, explicando as diligências que podem ser feitas na Câmara.
A advogada do Grémio esteve presente no local, falou muito brevemente da possibilidade de uma negociação e anunciou uma conferência de imprensa pelas 19h30 no seu escritório, longe dali.
Os presentes não saíram do local. Continuaram a discutir. Alguns sócios queriam entrar no Grémio. Discutiu-se a possibilidade de reunir lá dentro e decidir com calma o que fazer. Numa segunda assembleia improvisada, de novo no átrio de entrada, enquanto se preparavam acções de sensibilização e protesto até à quarta-feira seguinte, levantaram-se várias vozes que defenderam que se subisse ao primeiro andar. Muitos subiram. Um polícia pergunta “o que é que fazem aqui?” e começa a empurrar e agredir os primeiros a subir a escada. As pessoas não desmobilizam. Protestam contra a violência despropositada da polícia.
Cinco polícias estão lá em cima. Cassetetes na mão. Os ânimos aquecem. Algumas pessoas apelam à calma. Um membro da direcção apela à calma e volta a reafirmar a possibilidade de se suspender o despejo e arranjar uma solução para o Grémio continuar vivo, que passasse simplesmente por uma actualização da renda. Algumas pessoas pedem identificação da polícia por lhes terem batido.
Grita-se: “ O Grémio é nosso!”, “Lisboa a quem a vive” e palavras contra a repressão policial. Chegam reforços policiais (mais um dez polícias) que tentam abrir caminho à força pelas escadas para chegar ao primeiro andar. Todos as pessoas se sentam no chão, dificultando a passagem da polícia. A polícia não está com meias medidas, começa a bater indiscriminadamente em todos, criando o caos. Várias pessoas magoadas e esmagadas. Fotógrafos e jornalistas agredidos. Ouvem-se gritos. As pessoas protegem-se, defendem-se como podem. A polícia bate com cassetetes, empurra e pontapeia. Varre à pancada a escada. As pessoas saem do edifício para a rua. Há cabeças partidas, e muitos queixam-se de terem sido agredidos. Pelo menos um jornalista e um dos que estavam na escada pacificamente ficam no átrio de entrada (rés-do chão).
Depois de alguns diálogos infrutíferos entre a polícia e as pessoas que ali se encontravam, os polícias fazem um cordão cá em baixo, já na rua e começam a dizer às pessoas para circular. Várias viaturas da polícia estão estacionadas no Rossio, junto ao Grémio. As pessoas protestam contra a violência policial. Concentram-se ainda durante algum tempo à frente do Arco do Bandeira (o arco debaixo do Grémio).
... e depois:
As imagens da TVnet mostram imobilizado no chão um rapaz. Este rapaz, que nunca agrediu nenhum polícia e apelou repetidamente à calma, foi detido e levado para a esquadra.
Na esquadra foi fechado numa sala, foi espancado violentamente (com socos, com uma cadeira, etc), foi ameaçado e torturado durante horas por um dos polícias que estava na operação, um polícia da esquadra da Estefânia de uma posição hierárquica superior. O rapaz violentado pôde telefonar a chamar advogados e amigos que, depois de finalmente sair da esquadra (cerca das 3 da manhã, seis horas depois de ser levado para a ), o levaram ao hospital. Tem várias lesões no corpo e na cabeça.
6 comentários:
É engraçado que os manifestantes, alegadamente pacíficos, teimam em nao perceber o seu erro. E em nao querer perceber o que é um Estado de Direito.
Houve uma ordem de um tribunal e a policia estava la para a fazer cumprir!
A margem disto, as duas partes envolvidas acordaram em fazer uma reuniao para tentar uma solução.
Mas mesmo assim, os pseudo pacificos resolveram ir pressionar os cinco ou seis policias ("nos somos 70"....), quando os coitados dos agentes nao iam decidir nada! obviamente as ordens deles eram para nao deixar passar ninguem!
E os pseudo-pacificos basicamente foram la pica-los.. e depois acharam estranho terem chamado reforços?
E violencia, ali, foi da PSP?
E se virem as coisas com calma e dos varios pontos de vista? era capaz de ser boa ideia, nao?....
Sim, é verdade que alguns queriam subir a todo o custo para mostrar que são pela acção directa, e alguns se calhar estão a marimbar-se para o grémio. Mas daí a defender a imbecil e injustificável repressão policial, meu caro anónimo...
E o sagrado estado de direito que protege a santa propriedade... amen!...
atenção! não defendi nunca a repressão policial! So disse é que a atitude que as pessoas acabaram por ter, com a tal votação e de pressão junto de 5 agentes, estava a "pedi-las". Estive la e percebi logo no que ia dar...
O que me perguntei na altura foi: o que ganham com isso? os agentes que la estavam nao podiam decidir nada!! As ordens que tinham do tribunal era para não entrar ninguem nas instalações. Ali, como noutro despejo qualquer! É isso que a polícia faz, cumpre ordens!!
além de que ja estava acordada uma reunião para se tentar chegar a uma solução!! O que ia adiantar estar nas escadas a violar as ordens policiais??
E não se esqueça que os agentes que la estavam ouviram o que foi dito no átrio. Ponha-se no lugar deles e pense se não se sentia ameaçado!!
E, partindo do principio que eles até os deixavam entra no Grémio, acha que acontecia o que? muito provavelmente iam chamar reforços e acabava por acontecer a mesma cena! é uma questão de regras, e a PSP aplicou-as "by the book"....
Não defendo nunca a repressão policial, e muito menos a violência contra o jovem que foi detido.
Mas, neste caso, não posso concordar com a atitude dos manifestantes pró-grémio! E se tivessem pensado 30 segundos antes, também não concordariam...
Apenas isso.
clown army é o que nos faz falta...
Foi HOJE, dia 19 de Fevereiro de 2008, aprovada em sessão pública da Câmara Municipal de Lisboa, uma moção em que a CML assume a responsabilidade na continuidade da actividade desenvolvida pelo Grémio Lisbonense, bem como participar activamente nas negociações assegurando a permanência no local e garantir a recuperação do edifício!
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=81290
é qualquer coisa...
mas faltam muitas.
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