A menina pires passou anteontem no Bairro Alto, na Travessa André Valente, e pelo cheiro a escape suspeitou que naquela ruela tinha nascido um grande poeta. Nessa tarde, descobriu na internet que era mesmo assim: Bocage ali à luz foi dado.
Então a menina pôs-se a ler e a pensar em belas ideias: Bocage esteve preso vários anos pela Inquisição, mas os seus versos, esses, ninguém os pode prender.
"Liberdade querida, e suspirada,
Que o despotismo acérrimo
condena;
Liberdade, a meus olhos mais serena
Que o
sereno clarão da madrugada:
Atende à minha voz, que geme e brada
Por ver-te, por
gozar-te a face amena;
Liberdade gentil, desterra a pena
Em
que esta alma infeliz jaz sepultada.
Vem, oh deusa imortal, vem, maravilha,
Vem, oh consolação
da humanidade,
Cujo semblante mais do que os astros brilha:
Vem, solta-me o grilhão de adversidade;
Dos céus descende,
pois dos céus és filha,
Mãe dos prazeres, doce Liberdade!"
Fechou o livro de sonetos, e decidiu que ia ser livre. E pensou que ser livre incluía fazer escolhas, decidir e fazer, errar e acertar, pois o deixa-andar não faz pessoas livres e a liberdade não descende dos céus (aqui discordando ligeiramente com o poeta). Como o tema era vasto, ficou por aqui e foi beber um chá (que é um excitante barato), lembrando-se daquela rua e do cheiro a parque de estacionamento automóvel.
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