quinta-feira, 22 de setembro de 2016

liberdade

A menina pires passou anteontem no Bairro Alto, na Travessa André Valente, e pelo cheiro a escape suspeitou que naquela ruela tinha nascido um grande poeta. Nessa tarde, descobriu na internet que era mesmo assim: Bocage ali à luz foi dado.
Então a menina pôs-se a ler e a pensar em belas ideias: Bocage esteve preso vários anos pela Inquisição, mas os seus versos, esses, ninguém os pode prender.

"Liberdade querida, e suspirada, 

Que o despotismo acérrimo condena; 

Liberdade, a meus olhos mais serena

Que o sereno clarão da madrugada:

Atende à minha voz, que geme e brada

Por ver-te, por gozar-te a face amena; 

Liberdade gentil, desterra a pena 

Em que esta alma infeliz jaz sepultada.

Vem, oh deusa imortal, vem, maravilha,

Vem, oh consolação da humanidade,

Cujo semblante mais do que os astros brilha:

Vem, solta-me o grilhão de adversidade;

Dos céus descende, pois dos céus és filha, 

Mãe dos prazeres, doce Liberdade!"

Fechou o livro de sonetos, e decidiu que ia ser livre. E pensou que ser livre incluía fazer escolhas, decidir e fazer, errar e acertar, pois o deixa-andar não faz pessoas livres e a liberdade não descende dos céus (aqui discordando ligeiramente com o poeta). Como o tema era vasto, ficou por aqui e foi beber um chá (que é um excitante barato), lembrando-se daquela rua e do cheiro a parque de estacionamento automóvel.


Sem comentários: