terça-feira, 18 de agosto de 2015

à bengala

À bengala ele diz coisas baixinho que não se percebem bem
mas anda, parece, com agilidade, até. E depois de o ver perdi-o. Achei que estava no autocarro, sim era um autocarro e era amarelo, pelo menos parecia amarelo. Era, era. Amarelo, mas com publicidades, não se via bem lá para dentro. Podia ser um eléctrico. As portas abriram. Não, ele ia em pé, agarrado ao varão do autocarro, era um autocarro era. Ele murmurava palavras, pareciam palavras, eram de certeza, mas não se ouvia o que era, não se ouvia bem. Parecia ser uma bengala, mas depois estranhei, andar assim tão bem. Pode ser só de apoio. Ele se calhar caíu, partiu uma perna e agora só tem medo. É um apoio, ele andava bem, até muito bem, pareceu-me. Não coxeava. Saiu. Andava bem, sim, muito ágil. Tinha um chapéu, sim agora estou a lembrar-me do chapéu. Acinzentado? Sim, com uma risca, aquilo deve ter um nome, uma risca de chapéu com aba. Não era aba larga, era aba curta, pareceu-me aba curta, até tinha a aba levantada um pouco, de lado talvez, mas podia não ser de propósito, sim, tinha a aba levantada de lado. Sim, bengala tenho a certeza. Não sei se era fato. Era cinzento, o chapéu, sim, o chapéu era cinzento, disso tenho a certeza. Não era fato, era talvez uma camisola grossa avermelhada. Vermelho escuro, quase acastanhado, cor de tijolo escuro, não sei, mais vinho talvez. Não cambaleava, não, até andava bastante direito, sem ser demais. Não vi bem a cara. Era um homem, sim, não há dúvida. De sapatos, sim, vi a bengala castanha.

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