quando as árvores estiverem cansadas
não cansadas de viver
mas cansadas do sítio em que vivem
vão querer voar
e encerrar o sítio
mas os sítios são como as coisas e as pessoas
têm muitos lados, arestas, sabores
e há locus a menos nos sítios
e não se deixa assim um sítio
que já se quis tanto
e construiu
saem então com laivos de fúria
e ares de teatro nas folhas dos cabelos
agitando os ramos
fingindo arrancar umas raízes
e voam
e deixam a porta entreaberta
tudo sem olhar para trás
e deixam a porta entreaberta
voltar para trás tantas vezes
enquanto ainda está quente
as castanhas sabem bem quando cozidas
quando assadas com manteiga
se tiverem erva-doce
quarta-feira, 21 de março de 2012
inauguraçao
quando os homens forem árvores
e fizerem o pino mais vezes
as dúvidas vao-se dissipar
e vao entrar na máquina do tempo
com mil milhoes de ratos
quando os ratos voltarem aos buracos
nós vamos sair
encontraremos campos negros
para a mao semear com braços de árvore
e ramos de absinto
quando a guerra acabar
vou comprar uns calçoes para ir jogar com os meus amigos
ao jogo do quereres
e o conflito será livre
e saboroso
quando o aberto
estiver presente
as faltas
hao-de ser
vidas
quando o teu amor
mudar de nome
as liçoes vao ser de novo
inesperadas
e aquáticas
quando as mulheres puderem ser
o que tem medo de ser
e o objecto nao esmagar
a nossa mao inteira
entao tudo será mais de metade
quando a gente carregando os tronos
tirar os quatro pés ao mesmo tempo
os ratos vao devolver o queijo
e nao restam dúvidas
o que vai a gente inaugurar
e fizerem o pino mais vezes
as dúvidas vao-se dissipar
e vao entrar na máquina do tempo
com mil milhoes de ratos
quando os ratos voltarem aos buracos
nós vamos sair
encontraremos campos negros
para a mao semear com braços de árvore
e ramos de absinto
quando a guerra acabar
vou comprar uns calçoes para ir jogar com os meus amigos
ao jogo do quereres
e o conflito será livre
e saboroso
quando o aberto
estiver presente
as faltas
hao-de ser
vidas
quando o teu amor
mudar de nome
as liçoes vao ser de novo
inesperadas
e aquáticas
quando as mulheres puderem ser
o que tem medo de ser
e o objecto nao esmagar
a nossa mao inteira
entao tudo será mais de metade
quando a gente carregando os tronos
tirar os quatro pés ao mesmo tempo
os ratos vao devolver o queijo
e nao restam dúvidas
o que vai a gente inaugurar
o raio indeciso
os abrigos estao prontos
mas tao mal construídos
dentro deles a minhoca
cava a terra por nada
a sul duas varandas
com camisas
a norte estar sozinho
no cheiro da manada
para oeste uma viagem
impossível
a leste a revolta
amada enraivecida
na margem a vida
o raio indeciso
e no centro a comida
mas tao mal construídos
dentro deles a minhoca
cava a terra por nada
a sul duas varandas
com camisas
a norte estar sozinho
no cheiro da manada
para oeste uma viagem
impossível
a leste a revolta
amada enraivecida
na margem a vida
o raio indeciso
e no centro a comida
terça-feira, 20 de março de 2012
As frases escritas na noite d'Ontem Tornei-me uma Viúva Alegre
No passado dia 25 de Fevereiro, houve um jogo de palavras musical na sede dos Precários Inflexíveis (Lisboa): Ontem Tornei-me uma Viúva Alegre. Dessa noite de música escolhida pelos djs Patáááu!, Ihihih..., Woohoo! e Grrrr..., e a partir das palavras que foram sendo afixadas na parede, nasceram estas frases (clica nas imagens para ficarem maiores):
segunda-feira, 19 de março de 2012
coraggio?
sentada
a azedar
a amargura
fel ácida de cor escura
e a enterrar
já esbracejei o que podia
a pedir urga e carne viva
já os ombros chiam
cala-te boca
agora cerro-te
com chave de parafusos
fel ácida de cor escura
e a enterrar
já esbracejei o que podia
a pedir urga e carne viva
já os ombros chiam
cala-te boca
agora cerro-te
com chave de parafusos
pantera adormecida
(...)
É toda a força contida
e evidente sem disfarce,
o salto que há-de formar-se
da pantera adormecida.
(...)
(António Gedeão, versos do poema "Foguete de lágrimas, de "Teatro do mundo", 1958)
É toda a força contida
e evidente sem disfarce,
o salto que há-de formar-se
da pantera adormecida.
(...)
(António Gedeão, versos do poema "Foguete de lágrimas, de "Teatro do mundo", 1958)
domingo, 11 de março de 2012
sexta-feira, 9 de março de 2012
soneta
outro soneta é rapidamente
como quem põe a cinza na garrafa
com acentos porque a máquina safa
e a lua só cheia é que não mente
já não vejo os desenhos animados
no dia de manha às 7 e meia
passou o tempo de dormir na teia
agora tens de decidir os fados
querem sempre ver ali no escuro luz
querem sempre ver ali na luz a amada
querem ter o mundo menos confuso
querem agir sozinhos catrapuz
querem dizer da guerra uma almofada
querem que a vida inútil tenha uso
como quem põe a cinza na garrafa
com acentos porque a máquina safa
e a lua só cheia é que não mente
já não vejo os desenhos animados
no dia de manha às 7 e meia
passou o tempo de dormir na teia
agora tens de decidir os fados
querem sempre ver ali no escuro luz
querem sempre ver ali na luz a amada
querem ter o mundo menos confuso
querem agir sozinhos catrapuz
querem dizer da guerra uma almofada
querem que a vida inútil tenha uso
quinta-feira, 8 de março de 2012
terça-feira, 6 de março de 2012
coragem 4
invocada em vão deuses a coragem
que faz da liberdade os impossíveis
quotidianamente irascíveis
é como o burro dia-a-dia na linguagem
assim tu na revolta vais dobrando
agitando urgentes campaínhas
mas para quem cozinha nas cozinhas
não se ouve nem o bule suspirando
será então questão de responder
perserverantes na refrega endiabrada
ao lobo que aí vem e não desiste
mas não se trata do culto do sofrer
nem dos galões da valentia desvairada
talvez seja só não estar assim tão triste
que faz da liberdade os impossíveis
quotidianamente irascíveis
é como o burro dia-a-dia na linguagem
assim tu na revolta vais dobrando
agitando urgentes campaínhas
mas para quem cozinha nas cozinhas
não se ouve nem o bule suspirando
será então questão de responder
perserverantes na refrega endiabrada
ao lobo que aí vem e não desiste
mas não se trata do culto do sofrer
nem dos galões da valentia desvairada
talvez seja só não estar assim tão triste
coragem 2 - l'endurance de l'impossible (para debate)
La vertu principale dont nous avons besoin est le courage. Cela n'est pas universellement le cas: dans d'autres circonstances, d'autres vertus peuvent être requises de façon prioritaire. Ainsi à l'époque de la guerre révolutionnaire en Chine, c'est la patience qui a été promue par Mao comme vertu cardinale. Mais aujourd'hui, c'est incontestablement le courage. Le courage est la vertu qui se manifeste, sans égard pour les lois du monde, par l'endurance de l'impossible. Il s'agit de tenir le point impossible sans avoir à rendre compte de l'ensemble de la situation : le courage, en tant qu'il s'agit de traiter le point comme tel, est une vertu locale. Il relève d'une morale du lieu, avec pour horizon la lente réinstallation de l'hypothèse communiste.
(Alain Badiou, "Le courage du présent", Le Monde, 15 Février 2010)
(em inglês)
The main virtue which we are in need of is courage. This is not the case universally: in other circumstances, other virtues may be required as a priority. Thus, at the time of the revolutionary war in China, Mao promoted patience as a cardinal virtue. But nowadays it is courage. Courage is the virtue that manifests itself, regardless of the laws of the world, through the endurance of the impossible. The thing to do is to maintain the impossible point without accounting for the situation as a whole: courage, inasmuch as it is a question of treating the point as such, is a local virtue. It arises from a local morality, and its horizon is the slow reinstallation of the communist hypothesis.
(Alain Badiou, “The Courage of the Present” is an article from Le Monde, February 15/2010)
(Alain Badiou, "Le courage du présent", Le Monde, 15 Février 2010)
(em inglês)
The main virtue which we are in need of is courage. This is not the case universally: in other circumstances, other virtues may be required as a priority. Thus, at the time of the revolutionary war in China, Mao promoted patience as a cardinal virtue. But nowadays it is courage. Courage is the virtue that manifests itself, regardless of the laws of the world, through the endurance of the impossible. The thing to do is to maintain the impossible point without accounting for the situation as a whole: courage, inasmuch as it is a question of treating the point as such, is a local virtue. It arises from a local morality, and its horizon is the slow reinstallation of the communist hypothesis.
(Alain Badiou, “The Courage of the Present” is an article from Le Monde, February 15/2010)
coraggio (coragem)
quinta-feira, 1 de março de 2012
100 olhos
O ciclope só tinha um olho ou tinha três? Eu acho que só um.
Havia ainda que falar sobre os amblíopes, os cegos, os estrábicos, os míopes...
Mas ficamo-nos pelo Argos Panoptes.
Havia ainda que falar sobre os amblíopes, os cegos, os estrábicos, os míopes...
Mas ficamo-nos pelo Argos Panoptes.
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