o senhor doutor tinha um olho pequeno e no olho pequeno usava um óculo
o óculo era tão grande que era para aí cinco vezes o tamanho do olho grande
o senhor doutor só tinha uma orelha e só ouvia do lado esquerdo
no lado esquerdo tinha uma orelha e no lado direito usava um óculo
o óculo era tão grande que com ele se podia ver muito bem o mundo todo
o senhor doutor passava a vida a estudar tudo e o mundo todo e nunca chegava a nenhuma conclusão
o rubor do senhor doutor e os lábios e os risinhos não enganavam ninguém porém
todos sabiam que escondia a garrafinha na prateleira de baixo dum armário do escritório
não era preciso ser doutor para saber
mas é figura respeitável um doutor que tudo sabe sem chegar a conclusões
e que munido do gigante óculo passa o dia no escritório bem fechado
para não dar azo a distracções
terça-feira, 30 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
poema para o desenho dez de vinte e três desenhos e um fragmento de MD
Uma mesa posta para uma cena
uma mesa posta para uma ceia
uma mesa posta numa cela dum rico
uma mesa posta numa cela dum novo rico
uma mesa posta para uma ceia num domingo
Uma mesa posta com um criado a servi-la
um criado posto para servir a mesa
um criado posto para servir o peixe
um criado posto para servir o chá
a chávena posta para o chá ser servido
A mesa posta com a maçã e o vinho
a toalha de padrão sem paciência
o fantasma do criado servente
o perfil recorrente de um criado
o laço do criado
a camisa branca de gola alta do criado
a toalha no braço do criado
o sorrisinho do criado
Ninguém pra comer o peixe
ninguém pra beber o chá
ninguém pra tragar o vinho
ninguém pra morder a maçã
nenhum novo rico posto à mesa
nenhum rico posto à mesa
nenhuma ceia de domingo a ser comida
O receptor do sorrisinho
invisível
uma mesa posta para uma ceia
uma mesa posta numa cela dum rico
uma mesa posta numa cela dum novo rico
uma mesa posta para uma ceia num domingo
Uma mesa posta com um criado a servi-la
um criado posto para servir a mesa
um criado posto para servir o peixe
um criado posto para servir o chá
a chávena posta para o chá ser servido
A mesa posta com a maçã e o vinho
a toalha de padrão sem paciência
o fantasma do criado servente
o perfil recorrente de um criado
o laço do criado
a camisa branca de gola alta do criado
a toalha no braço do criado
o sorrisinho do criado
Ninguém pra comer o peixe
ninguém pra beber o chá
ninguém pra tragar o vinho
ninguém pra morder a maçã
nenhum novo rico posto à mesa
nenhum rico posto à mesa
nenhuma ceia de domingo a ser comida
O receptor do sorrisinho
invisível
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
um elefante
- elefante número oito mil quinhentos e vinte e três!
(mil elefantes
baloiçando)
ideia que depois
incendeia, porque não a acha inteira
- já sabia...
(mas sabe-se?)
a viva aranha
é que tece o elefante
e se lembra do baloiço
e nos oferece a teia
(o elefante perdeu a memória
mas sabe do presente
e a teia desta vez
não é uma prisão)
Quando? Quando? Quando?
- ainda não.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
declaração
os meus poemas também são do tamanho das saudades que tenho
mesmo que as saudades sejam muitas e os poemas sejam curtos
as camionetas parecem insectos
podia ser um poema
mesmo que as saudades sejam muitas e os poemas sejam curtos
as camionetas parecem insectos
podia ser um poema
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
poema para o desenho nove de vinte e três desenhos e um fragmento de MD
O Senhor Oldado de arma na mão
mochila na espalda com qualquer provisão
um cobertor, um mata-borrão
um mata-formigas, carne p'ra canhão
O Senhor Oldado na sua primeira lição
aprendeu a esticar-se como o cano que traz na mão
aprendeu um pouco da linguagem de cão
e manteve os olhos azuis iguais aos do irmão
O Senhor Oldado olha só numa direcção
é só uma farda sem coração
é só uma peça, um pedaço de pão
e engole à pressa o arroz e o grão
O Senhor Oldado não põe os olhos no chão
só quando fala com o capitão
e quando sobe os degraus da estação
para ir colono-democratizar o Africanistão
mochila na espalda com qualquer provisão
um cobertor, um mata-borrão
um mata-formigas, carne p'ra canhão
O Senhor Oldado na sua primeira lição
aprendeu a esticar-se como o cano que traz na mão
aprendeu um pouco da linguagem de cão
e manteve os olhos azuis iguais aos do irmão
O Senhor Oldado olha só numa direcção
é só uma farda sem coração
é só uma peça, um pedaço de pão
e engole à pressa o arroz e o grão
O Senhor Oldado não põe os olhos no chão
só quando fala com o capitão
e quando sobe os degraus da estação
para ir colono-democratizar o Africanistão
Subscrever:
Mensagens (Atom)