quinta-feira, 24 de julho de 2025

só mais uma vez

pessoas entusiasmadas
são
pessoas intensas
são 
pessoas que se tornam temidas

- reviram-se olhos
na copa -

são
pessoas que
são
traídas

 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

CRAVA MAIS UMA FACA

o elevador desceu e levou-o daqui para sempre
    e vão seis
veio sangue e foi-se avô
    e vão oito    
foi-se casa e cabeça
    e vão três
associação  
    e vão quatro
foi-se um filho que não chegou a ser
    e vão dois
foi-se avó
    e vai um
foi-se depois amor e vida    
    e vão três
foi-se o irmão mais velho que fazia de pai
    e vai por i adiante
as almas gémeas das artes
que faziam vibrar microfones
e foi-se o microfone
os tios e avós afectivos
os amigos dos pais
e ainda ontem
foi-se com um gesto a confiança
logo depois a mãe
finalmente o pai verdadeiro

crava agora mais uma faca

a ver se ainda mexo

 

crava agora mais uma faca 
pode ser por trás

(ainda havia um espacinho)

quarta-feira, 9 de julho de 2025

datas, essas convenções

Anteontem há 75 anos matava-se a Manuela Porto, com 42 anos.

(antigo e estudado plano A: vou imitá-la)

Anteontem renascia mais forte o que morrera tão maltratado. 

Ontem há 65 anos nascia o Maçariku. 

(se tivesse seguido o plano A: já não passo por isso)

Ontem morria o que parecia que renascia. Infanticídio.


Saberá alguém eventualmente um dia entender as premissas com lógica... que há-de existir, não vos parece? Lógica de fins e recomeços. E a mão humana. Sempre.


sábado, 7 de junho de 2025

árvore

lado direito da frente da folha

Ainda não aceito
sigo amarela a rir
ainda não aceito

Se paro começo a sentir
o vinho acre
num ponto central interior e distópico
como o infinito
que há cá dentro a flutuar

Já tenho saudades
e ainda não sei
como será passarem anos
sem conversar contigo


lado esquerdo da frente da folha

Uma morte em aflição
o desassossego que deixa

eu
viva e irresponsável
culpada em sensação

espezinha-se tudo
até que desapareça
sob a calçada e sob a praia

continua-se o caminho autómato
até ao muro


lado esquerdo do verso da folha

uma margarida, um maçarico
uma mãe e um marques
sentaram-se comigo à mesa

um murmurou, um motivou
um magoou, um moderou
como se eu merecesse
música, medrar
merda e mesura

foi quando eu arranjei coragem
para lhes dizer
não me apetece mais

silêncio
(e muda magia
mártir marca)