sábado, 27 de dezembro de 2025

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Separata dos Amigos Abalados

Onde estais vós Eduarda Maçariku
Joana Rita Lena Mitó?
Onde anda agora a vossa voz?
Que ruas escutam vossos passos?
Ao norte? ao sul? aonde? aonde?
Antonino Olímpio Ângelo Rui
E tu Manel de olhos claros
E tu Filomena E tu Gabriela
E tu Margarida?
Que estradas colhem vosso olhar?
Onde anda agora a vossa vida repartida?
A oeste? A leste? Aonde? aonde?
Olho prà frente prà cidade
e pràs outras cidades por trás dela
onde se agitam outras gentes
que nunca ouviram vosso nome
e vejo em tudo a vossa cara
e oiço em tudo o som amigo
a voz de um a voz de outro
e aquele fio de sol que se agitava
sempre
em todos nós
Dançam as casas nesta noite
ébrias de sombra nesta noite
que se prolonga em plena angústia
aos solavancos do destino
e não consegue estrangularmos
Sigo e pergunto ao vento à rua
e a esta ânsia inviolável
que embebe o ar de calafrios
Onde estais vós? onde estais vós?
E por detrás de cada esquina
e por detrás de cada vulto
o vento traz-me a vossa voz
a rua traz-me a vossa voz
a voz de um a voz de outro
toada amiga que me banha
tão confiante tão serena
Aqui aqui em toda a parte
Aqui aqui E tu? aonde?


Adaptação de "Balada dos amigos separados" de Mário Dionísio


solstício lunar

nova esperança e um novo salto

já a gravidade não tem mãe, não tem pai
já a gravidade tem as nossas mãos apertadas
as tuas quentes, as minhas frias

é o sol de inverno que cura
e a lua que continua, que olha por nós
dos 100 graus negativos aos 100 positivos
com os olhos fundos e feiticeiros

o fogo quando
os nossos peitos pulsantes se aproximam
criará filhos belos
pelo menos, um grande amor
do outro mundo

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

mães

um berro de perda 
pata esquerda 
mãe pata que trata quem se trata 
por tudo o que aqui se mete 
semente que agora te olha de frente 
que se despede sem tempo 
sem saber com doçura 

ferida dura aqui se lanha 
parte-se e parte-se 
e a malvada arranha 
parte-se um fio acima da cabeça 
e parte-se sem o fio e com outra cabeça
acende-se uma gota grita o peito 
desfeito 

não nos disseram que 
há muito para além de 
quanto mais se vive mais se 

oh! se precisava de ti aqui agora

amiga desachada

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

I wouldn't feel so used

inevitabilidade

os olhos que não páram para se olhar
o sorriso automático pouco duradouro
a piada na ponta da língua, a desviar as palavras importantes, as emoções grandes
a festa condescendente no cabelo
os gestos repetidos repetidos repetidos
não são, como queres, fruto natural dos anos

são sim o caminho por onde decidiste seguir e que não ousaste transformar

que não ousas transformar

o caminho que queres continuar a pisar

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

a escorripichar

abro os olhos no escuro 

e no escuro 

desabrocham manchas mais escuras


entrechocam-se

devoram-se


tudo vai sendo comido

preto sobre preto sobre preto


da vida perdemos o sentido

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Lena

A Lena foi uma das minhas três avós emprestadas. Foi-se primeiro a Joana, depois a Gabriela, agora a Lena. As três eram professoras. Aprendi muito com elas e não fui aluna de nenhuma. 

Não convivi muito com a Lena nestes últimos tempos, mas a Lena anda comigo na vida, no meu dia-a-dia, julgo que para sempre. Aprendi tantas coisas com ela que estou sempre a valer-me dessas aprendizagens. Formam o meu pensamento, formam os meus gestos. 

Aprendi, por exemplo: 

- que as plantas no Inverno têm água e estão bem, mas, no Verão, «estão em sofrimento» - por isso não se deve fazer podas no Verão; 

- que as ondinhas esbranquiçadas que às vezes aparecem na t-shirt são os sais deixados pela transpiração; 

- que não é no dia 24 de Dezembro que se deve dar prendas mas sim em 6 de Janeiro, que foi quando chegaram os reis magos; 

- que há pessoas que nasceram num dia (por exemplo no dia 3 de Agosto), mas foram registadas noutro (por exemplo no dia 4 de Agosto), e que os BIs podem dizer mentiras;

- que uma pessoa que eu sempre vira de cabelo curto podia já ter tido tranças; 

- que se pode ter os olhos cinzentos, e que se pode formar um círculo à volta da íris dos olhos, e que esses olhos podem ver objectos voadores não identificados; 

- que se pode ser uma mulher independente com 50, 60, 70 anos e, para além de fumar com gosto e beber whisky, admitir o enorme prazer que dá rebentar as bolinhas do plástico-bolha; 

- que ter avós emprestadas é alargar mundos; 

- que se pode dizer que não quando não nos apetece, só porque não nos apetece; 

- que se pode tentar calar a dor assobiando, sorrindo e cantarolando palavras estrangeiras.

sábado, 27 de setembro de 2025

 rerrom

esaelp

domingo, 10 de agosto de 2025

 dordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordprdordordordordordordordordordprdordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordordor

quinta-feira, 24 de julho de 2025

só mais uma vez

pessoas entusiasmadas
são
pessoas intensas
são 
pessoas que se tornam temidas

- reviram-se olhos
na copa -

são
pessoas que
são
traídas

 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

CRAVA MAIS UMA FACA

o elevador desceu e levou-o daqui para sempre
    e vão seis
veio sangue e foi-se avô
    e vão oito    
foi-se casa e cabeça
    e vão três
associação  
    e vão quatro
foi-se um filho que não chegou a ser
    e vão dois
foi-se avó
    e vai um
foi-se depois amor e vida    
    e vão três
foi-se o irmão mais velho que fazia de pai
    e vai por i adiante
as almas gémeas das artes
que faziam vibrar microfones
e foi-se o microfone
os tios e avós afectivos
os amigos dos pais
e ainda ontem
foi-se com um gesto a confiança
logo depois a mãe
finalmente o pai verdadeiro

crava agora mais uma faca

a ver se ainda mexo

 

crava agora mais uma faca 
pode ser por trás

(ainda havia um espacinho)

quarta-feira, 9 de julho de 2025

datas, essas convenções

Anteontem há 75 anos matava-se a Manuela Porto, com 42 anos.

(antigo e estudado plano A: vou imitá-la)

Anteontem renascia mais forte o que morrera tão maltratado. 

Ontem há 65 anos nascia o Maçariku. 

(se tivesse seguido o plano A: já não passo por isso)

Ontem morria o que parecia que renascia. Infanticídio.


Saberá alguém eventualmente um dia entender as premissas com lógica... que há-de existir, não vos parece? Lógica de fins e recomeços. E a mão humana. Sempre.


sábado, 7 de junho de 2025

árvore

lado direito da frente da folha

Ainda não aceito
sigo amarela a rir
ainda não aceito

Se paro começo a sentir
o vinho acre
num ponto central interior e distópico
como o infinito
que há cá dentro a flutuar

Já tenho saudades
e ainda não sei
como será passarem anos
sem conversar contigo


lado esquerdo da frente da folha

Uma morte em aflição
o desassossego que deixa

eu
viva e irresponsável
culpada em sensação

espezinha-se tudo
até que desapareça
sob a calçada e sob a praia

continua-se o caminho autómato
até ao muro


lado esquerdo do verso da folha

uma margarida, um maçarico
uma mãe e um marques
sentaram-se comigo à mesa

um murmurou, um motivou
um magoou, um moderou
como se eu merecesse
música, medrar
merda e mesura

foi quando eu arranjei coragem
para lhes dizer
não me apetece mais

silêncio
(e muda magia
mártir marca)