pessoas entusiasmadas
são
pessoas intensas
são
pessoas que se tornam temidas
- reviram-se olhos
na copa -
são
pessoas que
são
traídas
a silhueta da menina pires é uma sombra e uma mão
pessoas entusiasmadas
são
pessoas intensas
são
pessoas que se tornam temidas
- reviram-se olhos
na copa -
são
pessoas que
são
traídas
o elevador desceu e levou-o daqui para sempre
e vão seis
veio sangue e foi-se avô
e vão oito
foi-se casa e cabeça
e vão três
associação
e vão quatro
foi-se um filho que não chegou a ser
e vão dois
foi-se avó
e vai um
foi-se depois amor e vida
e vão três
foi-se o irmão mais velho que fazia de pai
e vai por i adiante
as almas gémeas das artes
que faziam vibrar microfones
e foi-se o microfone
os tios e avós afectivos
os amigos dos pais
e ainda ontem
foi-se com um gesto a confiança
logo depois a mãe
finalmente o pai verdadeiro
a ver se ainda mexo
crava agora mais uma faca
pode ser por trás
Anteontem há 75 anos matava-se a Manuela Porto, com 42 anos.
(antigo e estudado plano A: vou imitá-la)
Anteontem renascia mais forte o que morrera tão maltratado.
Ontem há 65 anos nascia o Maçariku.
(se tivesse seguido o plano A: já não passo por isso)
Ontem morria o que parecia que renascia. Infanticídio.
Saberá alguém eventualmente um dia entender as premissas com lógica... que há-de existir, não vos parece? Lógica de fins e recomeços. E a mão humana. Sempre.
lado direito da frente da folha
Ainda não aceito
sigo amarela a rir
ainda não aceito
Se paro começo a sentir
o vinho acre
num ponto central interior e distópico
como o infinito
que há cá dentro a flutuar
Já tenho saudades
e ainda não sei
como será passarem anos
sem conversar contigo
lado esquerdo da frente da folha
Uma morte em aflição
o desassossego que deixa
eu
viva e irresponsável
culpada em sensação
espezinha-se tudo
até que desapareça
sob a calçada e sob a praia
continua-se o caminho autómato
até ao muro
lado esquerdo do verso da folha
uma margarida, um maçarico
uma mãe e um marques
sentaram-se comigo à mesa
um murmurou, um motivou
um magoou, um moderou
como se eu merecesse
música, medrar
merda e mesura
foi quando eu arranjei coragem
para lhes dizer
não me apetece mais
silêncio
(e muda magia
mártir marca)