terça-feira, 22 de março de 2011

poema para o desenho catorze de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

vai um homem com uma faca na mão
prestes a zucla trucla na barriga do Gregório
o homem tem um lenço à volta da fuça
ao outro salta o chapéu de coco
as janelas da porta cinquenta e dois
abrem-se de par em par e
os vizinhos gritam como se houvesse incêndio
a agitar os braços no ar
o homem com a faca na mão prestes
a zucla trucla na barriga do Gregório
grita a casa a prestações
grita o anúncio da Coke
grita a Vera Sergine e O az no Teatro S. Luiz
grita o candeeiro de rua que se acende de verde e vermelho
gritamos nós deste lado testemunhas de tudo
gritam as pedras grandes da rua
que se sentem nas solas dos pés através das botas mais rijas
as botas mais rijas
são as da Grande Polícia
que não dá por nada e segue em sentido contrário
prestes a sair de cena
a Grande Polícia que nunca salvará o Gregório de ser apunhalado
cega
pateta
de rabo empinado na sua farda de ofício de nada
como sempre serôdia

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