terça-feira, 27 de julho de 2010

ao menino resistente






As aventuras de João Sem Medo, José Gomes Ferreira

quarta-feira, 21 de julho de 2010

tout va très bien

desenho de Franquin

segunda-feira, 19 de julho de 2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

vou ali passear o cão

Walk the dog, de Laurie Anderson

domingo, 11 de julho de 2010

quem pode fazer quem não faz quem faz quem não pode fazer


a coisa livre libertares
não fossem singulares os plurais

Antes
na história, condição aberta,
dominação pesada e leve
emancipação lenta veloz violenta
UMA LUTA POR CONTAR

quem pode fazer quem não faz
quem faz quem não pode fazer


Durante
nos instrumentos lisos que se trabalham ou não
lufa-lufa
e não abastecer nada
HOJE IMPOSSÌVEL
sem na medida do possível
os levar para onde não era possível
desafinar
e fazer a outra aprendizagem ensinar

quem pode fazer quem não faz
quem faz quem não pode fazer


Depois
não desejar obras-primas
mas coisas sem medo que ajudem
A DERRUBAR
pôr à disposição
convidar
meter o nariz no circular

a coisa livre libertares
não fossem singulares os plurais

quem pode fazer quem não faz
quem faz quem não pode fazer

sexta-feira, 2 de julho de 2010

então e não cantam?

No início eram duas pessoas. Não. No início era o nada. Não. Há qualquer sólido lá no meio. Do outro lado das cabeças.
Mas as cabeças não existem.
E são comportadas. Bem vestidas. Querem ser peixes dentro de água.
Onde estou?
(Repousar a cabeça antes de o espectáculo começar. Tirar. - pensamento de pai. Tido agora a posteriori.)
No início eram duas pessoas. Depois uma tornou-se artista e a outra obra de arte em potência. Actuante e objecto. Modelo. Modelo de aulas de desenho.
Eu passei 360 horas a ser olhada pelo artista, fiz estas posições todas.
Eu sou muito flexível.
O meu movimento desenha.
Depois o modelo vai olhar para a "sua" obra de arte concluída. Não sabe relacionar-se com ela. Não sabe como há-de. Rejeitá-la ou amá-la? Dar-lhe um pontapé?
Ao fim encaixa.
Mas encaixa tanto tempo que ficamos com falta de ar. Gira-se a cabeça em silêncio, troca-se de pé, sabe-se que se respira. O ar aquece, as cabeças tentam provar que da água ninguém as tira.
Só muito depois vêm: as caras das cabeças, os sons que nascem do silêncio incómodo, forçado e opressor, a luz e a sombra, o sólido que talvez seja uma obra de arte e, finalmente, o auto-riso que nos esclarece: estão a gozar connosco.
A modelo que encaixou tem um sorriso trocista. Sim, quanto tempo aguentam no meio do nada?
Espera. Ela tem uma perna amputada e sorri ao chegar ao pé de um pé-prótese que vai poder usar. É um riso de felicidade de prótese.
Não tenho ar.
A pessoa que já não é pessoa mas artista vai passados 10 anos buscar a sua obra de arte, à qual o modelo tinha ficado colado, e passa-lhe o pano do pó. Só no modelo.
O modelo pode continuar a servir. Como modelo ou como pessoa. A obra de arte não vai servir para mais nada. Vai ficar eternamente no mesmo lugar, na mesma posição, com a mesma luz, de pedra branca.
As cabeças então podem olhá-la de passagem e saber que a pedra branca é eterna.
Não tropecemos em escadotes laranja e fardos de palha no meio do escuro.
Lá fora há pessoas. Falam de mel e anel, ritual e revir. Dança, mármore, entrada. Mas eu só vi à saída.