quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

versão

Ah, insanidade, vem com a idade
cabecinha sem tempero
faz chorar de riso com pouco siso
um riso tão desespero

Ah, porque você é louco assim?
assim, tão desandado
ah, cabeça minha, quem é do contra
não conhece sanidade

Vai, meu coração, esquece a razão
usa só loucuridade
quem semeia vento, diz a paixão
colhe belas tempestades

Pão, meu coração
larga miolo, miolo esfarelado
Vai, porque quem guarda o miolo
nunca é desmiolado

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Ruge

Trovoada.
As pessoas fazem perguntas estranhas: tens mais medo do trovão ou do relâmpago?
E agora reparo
O relâmpago faz-me fechar os olhos, baixar a cabeça, querer enterrar-me, começo a ter dificuldade de respirar, começo a arfar.
No trovão fecho mais os olhos, recolho os ombros, junto o queixo ao peito, tremo, peço desculpa por todos os males que fiz. Os trovões demoram.
Na absoluta fragilidade.
Uma trovoada mesmo em cima e eu fechada dentro de dois metros quadrados com um inimigo.
Os pneus são de borracha - dizem-me as pessoas que me fazem perguntas estranhas.
O que é que isso interessa?