o rio transformado
não queremos ver
recusamo-nos a ver o que se move
julgando apanhar o movimento
no cinema parado
Continuamos a querer ignorar
a violência desse rio
e o que podemos fazer para travar
a própria ignorância
dessa violência
Continuamos a querer ignorar
o tempo que dá lições tarde demais
e por isso a perda pesa-nos como rocha
sobre os pés
sangrando muito
esmagando todo o passo
Continuamos a querer ignorar
a impossibilidade de melhorar
o que não pode ser melhorado
mas tememos a revolução dos astros
e condoemo-nos de estrelas
supersticiosas
Continuamos a querer ignorar
que não somos as sombras
mas a luz que as abre
e que as repete sempre diferentes
porque gira
e derruba o betão
com giratórias de vinte e quatro
toneladas
e retroscavadoras demolindo ideias
falsas
ou simplesmente uma pena
leve nas mãos de jaula