vestido a rigor para o baile de máscaras
espera pelo autocarro para Charleston
na berma do passeio
disfarçado de verde e folhos
grandes mangas touca pompons
maquilhagem branca e vermelha e preta
espera que não o reconheçam
e pensa em torrentes na mascarilha negra
de lantejoulas azuis
que lhe vai perguntar
«quem é você?»
e depois hão-de voar
para longe da música
para o jardim escuro e quieto do palacete
e trocar apontamentos
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Os gatos
OS GATOS
Os amantes febris e os sábios solitários
Amam de modo igual, na idade da razão,
Os doces e orgulhosos gatos da mansão,
Que como eles têm frio e cismam sedentários.
Amigos da volúpia e devotos da ciência,
Buscam eles o horror da treva e dos mistérios;
Tomara-os Érebo por seus corcéis funéreos,
Se a submissão pudera opor-lhes à insolência.
Sonhando eles assumem a nobre atitude
Da esfinge que no além se funde à infinitude,
Como ao sabor de um sonho que jamais termina;
Os rins em mágicas fagulhas se distendem,
E partículas de ouro, como areia fina,
Suas graves pupilas vagamente acendem.
Charles Baudelaire
Os amantes febris e os sábios solitários
Amam de modo igual, na idade da razão,
Os doces e orgulhosos gatos da mansão,
Que como eles têm frio e cismam sedentários.
Amigos da volúpia e devotos da ciência,
Buscam eles o horror da treva e dos mistérios;
Tomara-os Érebo por seus corcéis funéreos,
Se a submissão pudera opor-lhes à insolência.
Sonhando eles assumem a nobre atitude
Da esfinge que no além se funde à infinitude,
Como ao sabor de um sonho que jamais termina;
Os rins em mágicas fagulhas se distendem,
E partículas de ouro, como areia fina,
Suas graves pupilas vagamente acendem.
Charles Baudelaire
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
pincelada isolada e discrepante
Pincelada isolada e discrepante
só tu alegre e louca
despertaste este poço de sombra
Vómito lento o mundo inteiro surdo estava
imerso em seus grilhões de esgoto e náusea
à procura de tudo
à procura de nada
De que mistério te evolaste?
Como chegaste aqui por onde quando e silenciosa
involuntária te instalaste
triunfante?
Toque de cor grito macio apenas sei
que em ti e só de ti aqui se abriu agora mesmo este postigo de lua
logo janela aberta porta estrada céu imenso
de acalento Um sol real
que não se pode copiar
nem inventar
(nem evitar)
MÁRIO DIONÍSIO
só tu alegre e louca
despertaste este poço de sombra
Vómito lento o mundo inteiro surdo estava
imerso em seus grilhões de esgoto e náusea
à procura de tudo
à procura de nada
De que mistério te evolaste?
Como chegaste aqui por onde quando e silenciosa
involuntária te instalaste
triunfante?
Toque de cor grito macio apenas sei
que em ti e só de ti aqui se abriu agora mesmo este postigo de lua
logo janela aberta porta estrada céu imenso
de acalento Um sol real
que não se pode copiar
nem inventar
(nem evitar)
MÁRIO DIONÍSIO
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