sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ofereço a letra


L'avion rose

Fechado aberto o pulmão de CORAÇÃO
O MEU CORAÇÃO DE PULMÃO
A SANGUE FRIO A RESPIRAR EM LATA
FECHADO ABERTO AS PESTANAS
RESPIRAR
O ALÍVIO DA NOITE EM CIMA
EM SEXTO ANDAR
EM DUAS EM DUAS E OITO
Fechar abrir os olhos o programa a resposta
mudar o erro emendá-lo nunca possível
As peças de vidro e líquido já se sabiam buscar sozinhas
sobe-se ao banco não se pede à mãe
sem amigo de sorriso
sem a rede da corda de corda sem coração
Os carros em baixo a mais de mil e duzentos
como ondas do mar da natureza da sintra longinquíssima
mistiquíssima demais
A fala
a que cala
a que despe a pala
e nua se mostra se abre a prometer mel
em fúria
sem rasgo de sinal para onde possa ir
quem querer o mel
sinais soltos num papel de gordura
As casas criadas com tanta segurança
o nojo do ódio do rico da pança
e aquela máscara de ódio
O medo

Fugia-se do medo sempre a sete patas
quando a noite estreitava assim as cinturas
e dilatava as ideias
deformando
e aconchegava com vidro com pulmão
decoração
azeite por cima sempre a gritar ao óleo
eu é que sou!
Os travões amigos aconchego com guinadas
o mar dos carros
o sopro do vento que hoje não se ouvia
mas que fazia parte das janelas

E a tua voz a desculpar o outro a admirá-lo a sê-lo também tão bem
e eu a saber que então também te tenho asco porque és assim
porque são iguais:
o amor o amante o pai o filho que nunca quero ter porque mais é demais
Lesbos era uma ilha que se delineava ao longe e acenava alguém de lá
e sempre a nossa jangada a via ao longe
e sempre levada seria pela mesma corrente da saga raga

E as palavras queria que alguém as pegasse
e saberia desde início que eram impegáveis
as palavras as palavras
com que queria gritar-te a vida a tua a minha a dos que cá bebem
em suas caixinhas
e afinal nada sabia eu disso tudo e não queria saber
queria só cantá-las
e não arranhava uma corda de nenhum instrumento de sopro
rasgar grunhos antigos restava bastava assava
mas não saía paria azevia
acenar e gritar esgarçar ruliminar

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

poema para o desenho vinte e um de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

O paquete Nyassa tinha a âncora agarrada ao casco
e o casco de ferro como convém aos piquetes que não levam a paz
Era grande de chaminés e apitos fumegantes
e esburacado de furos para os canos de fogo
Os arames e os cabos sem velas
a casota blindada e pessoas nem vê-las
Só tem pátria o piquete paquete Nyassa
só tem mar à volta e uma lanterna vermelha
O paquete imponente como se aguenta na água?
Não afunda não afunda nem na maré vaza
Será que não afunda? tem retorno torna a casa?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

como descer aos infernos provando que a vida não está escrita


os dois a cair por uma ribanceira a cair a cair sem rede
sem ser bom
e depois no fim chegámos mesmo lá abaixo
e lá em baixo descobriste que havia uma escada por onde tudo seria mais fácil
uma escada
com degraus com estrutura com construção
feita pelo Homem

"nos sonhos é-se vivo não se morre
aliás essa é a única vantagem"

cá na vida já nos estatelámos

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O meu a meu dono

A Regina Guimarães também gosta muito de pensar nisto tudo.


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

outros olhos

eu acho que o amor move montanhas, faz girar o mundo
o ideal, mas sobretudo o correspondido
que se traduz depois nas coisas práticas
em tudo
e não vejo coisa mais interessante no mundo que as relações entre pessoas
não fosse isso e nada disto tinha interesse
nada disto me dava para pensar
ou para divagar, ou para fazer canções e escrever poemas
e conversar e beber copos e dançar
se não fosse isso
das relações entre as pessoas
do amor e do ódio
das aproximações e afastamentos
dos pactos de relação, românticos ou empresariais
desvendar isso, experimentar isso, arriscar, descobrir a forma mais livre, saber as formas mais opressivas ou emaranhadas
ver os outros, pensar os outros, pensar em nós, pensar nós com os outros que já têm relações uns com os outros
tentar mudar isso, mudar o mundo, fazer a luta juntos
("não se pode ser feliz sozinho")
se não fosse isso éramos antílopes ruminantes no cimento e no silêncio
mas não somos
estamos cá para mudar isso
estamos cá porque não somos isso
nunca fomos isso
se vemos isso noutras pessoas ao lado
é porque temos de mudar o mundo
as relações como andam a ser feitas
os casamentos mudos
as rotinas
as relações desiguais autoritárias hierárquicas sufocantes
repetidas desinteressantes não produtivas
tudo o que a nossa nunca foi
a nossa que interrogou tanto isso o tempo todo
a nossa que criou novos objectos
novas relações novos caminhos novas ideias
a nossa que juntou pessoas que mudou outras pessoas
que mudou formas de fazer as coisas à nossa volta
a nossa é que mudava o mundo

smother love



Crass - Smother Love, from Penis Envy.

Smother Love.
The true romance is the ideal repression, that you seek,
That you dream of, that you look for in the streets,
That you find in the magazines, the cinema, the glossy shops,
And the music spins you round and round looking for the props.
The silken robe, the perfect little ring,
Will gives you the illusion when it doesn't mean a thing,
Step outside into the street and staring from the wall
Is perfection of the happiness that makes you feel so small.
Romance, can you dance? D'you fit the right description?
Do you love me? Do you love me? Do you want me for your own?
Do you love me? Say you need me, say you know that I'm the one,
Tell me I'm your everything, let us build a home.
We can build a house for us, with little ones fellow,
The proof of our normality that justifies tomorrow.
Romance, romance. Do you love me? Say you do,
We can leave the world behind and make it just for two.

Love don't make the world go round, it holds it right in place,
Keeps us thinking love's too pure to see another face.
Love's another skin-trap, another social weapon,
Another way to make men slaves and women at their beckon.
Love's another sterile gift, another shit condition,
That keeps us seeing just the one and others not existing.
Woman is a holy myth, a gift of mans expression,
She's sweet, defenceless, golden-eyed, a gift of gods repression.
If we didn't have these codes for love, of tokens and positions,
We'd find ourselves as lovers still, not tokens of possessions.
It's a natural, it's a romance, without the power and greed,
We can fight to lift the cover if you want to sow and seed.
Do you love me? Do you? Do you? Don't you see they aim to smother
The actual possibilities of seeing all the others?
Do you love me? Do you? Do you? Don't you see they aim to smother
The actual possibilities of seeing all the others?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Corte de cabelo e pratos partidos

Foi vista nas salas do youtube a silhueta da menina pires, que - enquanto roubava e passava material - ameaçou cortar a cabeça mas resolveu apenas cortar o cabelo. A fraca.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

domingo, 4 de setembro de 2011

só o que se espera ardentemente nos chama



















"...só o que se espera ardentemente nos chama, sobretudo nas épocas de perplexidade, onde a força da desilusão e do desencanto não é comparável senão à da expectativa renovada de que não sabemos desistir."

Mário Dionísio, Conflito e unidade da arte contemporânea (conferência na SNBA, 1957)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011